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O Sagrado Feminino não exclui, mas envolve e integra.

O Sagrado Feminino pode nos fazer ver como diferentes partes da vida estão conectadas. Pode nos mostrar os padrões de relacionamentos e interconexões que nutrem a vida. O Sagrado Feminino proporciona espaços para evolução. Protege, envolve e demonstra devoção e cuidado. “Ele estende amorosamente o seu manto” (ver representações de Maria). Pode ajudar-nos a ver conscientemente o que compreendemos intuitivamente: tudo faz parte de um todo vivo e orgânico no qual toda a criação se intercomunica e cada célula criada expressa o todo de forma única.

O caminho da evolução da alma não é um caminho reto e linear em que tudo o que “incomoda” pode ser deixado de lado. É um caminho dinâmico que exige transcendência, santificação. O Sagrado Feminino pode nos ensinar que toda experiência avaliada e refletida honestamente é de grande importância.

O caminho da alma avança em linhas sinuosas, mas também leva a becos sem saída e precisa de voltas repetidas vezes.

O crescimento da alma não ocorre através do ascetismo ou da exclusão, mas através da observação e avaliação cuidadosas, através do reconhecimento intuitivo do sagrado, que brilha através de todas as coisas vivas e (à sua própria maneira) “fala” conosco continuamente.

O Sagrado Feminino dá à luz o ritmo do sagrado.

Esse ritmo chama-se: inalar e exalar. O Sagrado Feminino sabe que ser é mais importante do que fazer. Pensamos depressa demais que nossos próprios conflitos e os problemas do mundo só podem ser resolvidos mediante a “atividade” e o “fazer” contínuos. Mas é precisamente esse foco na “atividade inquieta” que nos tem levado a situações críticas. É no silêncio que reside o maior poder. Nele podemos sentir o ritmo divino e tentar entronizarmo-nos com ele.

O Sagrado Feminino concede espaço à presença corporal...

Somos criaturas divinas e devemos sê-lo tanto na nossa corporeidade quanto na nossa alma e estrutura espiritual. Nossa existência corporal, nossa presença corporal e nosso “estar presentes juntos” são de importância elementar ([12]). Nossa sexualidade pode também tornar-se expressão do sagrado, um reflexo da “sexualidade divina” que se realiza criativamente numa estrutura hermafrodita. O caminho para isso é retratado no Cântico de Salomão de forma comovente.

 O Sagrado Feminino encarna a presença divina amorosamente carinhosa.

O Sagrado Feminino mostra-nos que a vida espiritual não é uma vida rompida, uma vida afastada das esferas espirituais, mas sim, visto de fora, uma vida completamente normal. Cada pequena ação quotidiana é significativa – estar em conjunto com pessoas, animais, plantas. Se essa convivência se realiza com base e na consciência da nossa essência interior, é santificada, curada. O Sagrado Feminino atua na presença amorosa, completamente não espetacular, nas nossas relações, na nossa família, na vizinhança, no nosso ambiente. É aqui que ele se revela.

“Pelos seus frutos os conhecereis”. São frutos da natureza superior ou frutos que pertencem ao mundo dos opostos? Podemos sentir e estimular o sagrado nas profundezas de cada criatura.

O Sagrado Feminino ensina-nos a sabedoria de receber e ouvir

O Sagrado Feminino mostra-nos como o amor e o anseio podem criar um espaço no coração para nos ligarmos ao Divino. Quando nosso coração está aberto, tudo que precisamos nesse momento vem até nós.

Tal como uma mãe sabe intuitivamente escutar seus filhos para perceber suas verdadeiras necessidades, o Sagrado Feminino ensina-nos a escutar interiormente e exteriormente a vida, a participar no grande mistério.

A escuta é uma qualidade essencial do acolhimento. Podemos aprender a escutar, a estar atentos interior e exteriormente, e a estar atentos aos sinais que nos dizem o que é realmente a vida. A vida é uma expressão direta do divino, uma imagem no plano material. Podemos aprender a perceber a presença oculta do Divino na matéria, na natureza.

O Sagrado Feminino desenvolve o diálogo criativo.

O Sagrado Feminino tem um olho para o todo. Ele sente as várias inter-relações e sabe intuitivamente como elas funcionam em conjunto, quer trazer as diferentes perspectivas e pontos de vista das criaturas do grande tecido para um processo construtivo de união sinergética, para um diálogo verdadeiramente criativo.

Podemos aprender não só a falar com base no que já sabemos, no que lemos, no que faz parte da nossa filosofia, mas também a ouvir o que quer ser dito e expresso neste preciso momento. Podemos aprender a ter respeito por outras perspectivas e pontos de vista, até mesmo a “entrelaçar” essas perspectivas com a nossa contribuição. O Sagrado Feminino tem sempre em mente a unidade sem querer antecipar a unidade.

O Sagrado Feminino desenvolve seu serviço no “Corpo Vivo Universal”.

O Sagrado Feminino nos mostra o quadro geral, o tecido sagrado. Como indivíduos e como comunidade espiritual somos holos (partes) do Corpo Vivo Universal. Cada grupo e comunidade espiritual tem dentro de si uma tarefa e uma vibração específicas que determinam a natureza da sua participação nos mundos exterior e interior. Alguns grupos espirituais trabalham e servem no mundo exterior, por exemplo, fornecendo ajuda através de atividades de cura. Outros grupos trabalham perto do mundo físico e ajudam a curar o corpo etérico da Terra. Outros grupos trabalham no mundo astral e outros nas profundezas, até mesmo nos planos do não-ser. Não há competição aqui, nem melhor nem superior. Cada um ocupa o seu lugar através do serviço. Podemos aprender a nos encaixar humildemente nesse mosaico de serviço.

O Sagrado Feminino anuncia uma qualidade de consciência na qual os opostos e as polaridades são combinados de forma frutífera.

Na nova era que se aproxima, o Sagrado Feminino iniciará sobretudo uma “qualificação essencial” da consciência humana. Sri Aurobindo ([13]) chama isso de efeito de “consciência supra mental”. Ken Wilber, em sua abrangente filosofia da consciência, chama isso de estágio amarelo ou turquesa. É a capacidade de liberar em si mesmo uma qualidade de consciência completamente nova, baseada na conexão com a própria essência interior, na qual todos os opostos e polaridades podem se conectar e fundir de maneira frutífera.

Assim,

espírito e matéria,

fogo e água,

masculino e feminino,

racionalidade e emotividade,

ciência e religião,

atividade e tranquilidade,

ambição e modéstia,

humildade e coragem

já não são opostos.

Nas palavras de Sri Aurobindo:

Esse é o nó que mantém unidas as estrelas: as duas que são uma só formam o segredo de todo o poder. Os dois que são um também são poderosos e certos nas coisas. (Sri Aurobindo) [13].

Imagem: Gaia Moder Jord Natur - Pixabay