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Se as portas da percepção fossem desobstruídas, tudo apareceria para o homem como é:

infinito. Pois o homem se fechou a ponto de considerar tudo pelas estreitas frestas de sua caverna.

William Blake

Percepção

Eu percebo que vejo o mundo através dos meus ideais? Minha mente pode ver tudo o que

acumulei sem a intervenção do pensamento?

Os pensamentos distorcem a percepção, levando-nos a cenários infinitos. Tudo está

presente na imensa diversidade da vida. A ideologia seleciona e encontra provas externas

de nossas ideias, e nossa mente as interpreta como evidências, elementos indiscutíveis de

sua honestidade. Percebemos que a ideologia é uma escolha que alimentamos e que

permanece superficial? Quando se faz a escolha da ideologia (religião, tradição, clube

esportivo, política...), esta deve ser mantida.

Quando escolhemos um caminho, não queremos ser questionados; nossa vida é muito

dolorosa, há muito sofrimento, não queremos aumentar... Quanto mais sórdida é a

realidade, mais queremos nos conectar a um mundo virtual. A ilusão se torna um

analgésico! O mundo virtual nos anestesia completamente, e assim não vemos mais a

ilusão em que vivemos e que tanto nos faz sofrer.

Por muitos anos, fomos alertados sobre esses perigos do virtual, da ilusão: Matrix, 1984,

Wall-e, Admirável Mundo Novo... Esses livros ou filmes são muito claros sobre as ameaças.

Percebo que estou sendo enganado, que estou “pregando peças” comigo mesmo, que, de

fato, não movi um pingo na realidade da minha vida? De fato, fiz progressos mensuráveis

em relação à minha ideologia, mas ainda estou criando distúrbios, conflitos, confusão...

Então o que está acontecendo?

Assim como um gato olhando para um rato, com total atenção ao que é, eu observo tudo

isso, sem comentar... e então, porque fico com o que é, um silêncio interior me preenche.

Eu sou um com o que observo; Eu não faço uma escolha! Não quero nada, não quero ser

nada... A meditação se instala. É o resultado da observação dos fatos e gestos cotidianos,

internos e externos; não pode ser aprendido! Nesse silêncio, existe uma energia tremenda,

a energia do vazio.

Então, a percepção se torna...

Vibração

O universo é vibração. Tudo vibra. Tudo nasce e volta nessa vibração. Mas ninguém pode

se harmonizar com as altas vibrações cósmicas se não conhecer a si mesmo.

(José Aguiar)

Essa irradiação indefinível e elusiva: paz, força, silêncio, alegria, não depende das

circunstâncias externas e é fortalecida pela adversidade. É uma dádiva de um quotidiano

vivido nesta relação essencial, nesta imensidão que nos envolve...

O silêncio alimenta esta vibração, e depende de nós fazer com que este silêncio habite em

nós: não entrar nas contradições da vida quotidiana, não manter as polaridades, vivificar o

silêncio saboreando-o...

E então, o tempo não mais existe.

Espaço e tempo

Conhecemos três dimensões: altura, comprimento e largura. Experimentamos nosso

espaço de vida por meio dessas três dimensões. Por mais amplo que façamos ou

imaginemos esse espaço tridimensional, ele sempre tem limites, sempre tem restrições e

sempre significa aprisionamento. [...]

É claro que as dificuldades ligadas a isso cessariam imediatamente se houvesse uma

quarta dimensão [...]

Essa quarta dimensão existe! [...]

É a dimensão que elimina completamente o tempo, a distância e o passado, o presente e o

futuro, o agora e o futuro.

The Living Word of Catharose de Petri, pp. 20-21, edição de 1996, Rozekruis Pers,

Haarlem, Holanda.

Será que a origem do conflito da humanidade é a incapacidade do indivíduo de enfrentar a

realidade do que ele”‘é”, psicologicamente, com o corolário da busca quimérica do que ele

deve ‘tornar-se’? Essa incapacidade tem sua origem nas divisões profundas introduzidas na

psique pelo pensamento, e mais particularmente pelo pensamento que causa a experiência

do tempo e do “eu”.

O fim dos tempos, diálogos de J. Krishnamurti e David Bohm, Le Rocher, 1987.

O tempo não é um elemento do despertar. Tudo o que leva tempo está ligado ao tempo.

Todas as nossas atividades resultam do nosso pensamento, são os cenários dos nossos

pensamentos, e têm como base o tempo. Estamos falando do tempo psicológico do qual

precisamos nos libertar, não do tempo necessário para aprender a dirigir ou cozinhar, por

exemplo.

Tempo e pensamento são passado, presente e futuro! Portanto, o que somos agora

continuará a criar o futuro sobre o que construiu no passado. É uma máquina de “tornar-se”.

Tornar-se outra coisa ou outra pessoa; transformar-se; querer sempre mais, ser sempre

mais... pensar que, com o tempo, tudo se resolve graças a diversas técnicas e

espiritualidades... Tudo isto é apenas uma fuga, uma incapacidade de enfrentar a realidade

que queremos embelezar com a nossa imaginação. Só funcionamos nesse sistema

colocando à nossa frente aquilo que jamais alcançaremos. Tudo o que podemos conseguir

é a observação de todo esse sistema no presente.

Blaise Pascal disse:

Corremos felizes para o abismo quando colocamos algo diante de nossos olhos.

Mas existe a possibilidade de uma mudança radical! Existe a possibilidade de acabar com o

tempo psicológico resultante do desejo de vir a ser, de saber, que resulta dos vários

cenários que o nosso pensamento montou para continuar a funcionar “na sua caixa

estreita”. E é de uma beleza extraordinária, de muita alegria, e de liberdade também,

terminar algo (mesmo aprendendo e querendo experimentar).

Se não existe mais a ideia de progresso, de tempo para conseguir alguma coisa, então há apenas um movimento, apenas uma dinâmica: o momento, o silêncio. Nesse estado, nossa mente não escolhe mais uma direção, o devir não existe mais e o conflito cessa. Nesse estado de meditação, uma formidável fonte de energia vibra dentro de nós. O tempo não existe mais; a vida é uma observação contínua e morre no momento. Então, a criação que ocorre é é verdadeiramente nova!