"Jane Eyre" é um romance de Charlotte Brontë publicado em 1847, considerado uma das obras fundamentais da literatura vitoriana e marco na evolução do romance feminino. A narrativa autobiográfica acompanha Jane desde a infância órfã até a maturidade, explorando temas de independência feminina, igualdade social, religião e amor através de uma protagonista que desafia convenções sociais de sua época.
Jane Eyre representa um novo tipo de heroína literária: pobre, sem beleza convencional, mas dotada de integridade moral inabalável e espírito independente. Órfã maltratada que se recusa a aceitar humilhações, ela encarna ideais de dignidade pessoal que transcendem classe social e aparência física. Sua evolução de criança rebelde para mulher autônoma ilustra possibilidades de autodeterminação feminina numa sociedade patriarcal restritiva.
A infância em Gateshead estabelece os padrões de injustiça e resistência que caracterizam toda a vida de Jane. Maltratada pela tia Mrs. Reed e pelos primos, especialmente o cruel John Reed, ela desenvolve senso agudo de justiça e recusa em aceitar tratamento degradante. O episódio do "quarto vermelho" revela tanto sua vulnerabilidade infantil quanto sua determinação em manter dignidade pessoal.
Lowood School representa instituição educacional que combina oportunidade de crescimento intelectual com opressão sistemática. Sob a direção do hipócrita Mr. Brocklehurst, a escola sujeita as meninas a condições desumanas disfarçadas de disciplina cristã. A amizade com Helen Burns oferece a Jane modelo de resignação cristã que ela admira mas não consegue adotar completamente.
Helen Burns personifica a virtude cristã levada ao extremo da abnegação total. Sua aceitação paciente do sofrimento e morte prematura por tuberculose contrastam com o temperamento combativo de Jane, oferecendo-lhe lições sobre perdão e espiritualidade que influenciam sua formação moral sem eliminar seu espírito de resistência.
Miss Temple representa a educadora ideal que combina competência intelectual com bondade maternal. Sua influência sobre Jane demonstra o poder transformador da educação quando oferecida com amor e respeito, contrastando com a brutalidade de Brocklehurst e preparando Jane para sua futura carreira como governanta.
Thornfield Hall funciona como cenário gótico onde Jane encontra tanto amor quanto mistério. A mansão isolada, com seus segredos ocultos e atmosfera sobrenatural, reflete estados psicológicos dos personagens e cria ambiente propício para o desenvolvimento do romance entre Jane e Rochester.
Edward Rochester encarna o herói byrônico: atraente, atormentado e moralmente ambíguo. Proprietário de Thornfield que esconde esposa louca no sótão, ele representa tanto possibilidade de amor verdadeiro quanto perigo de corrupção moral. Sua relação com Jane desenvolve-se através de conversas intelectuais que reconhecem sua igualdade espiritual apesar das diferenças sociais.
Bertha Mason simboliza a sexualidade feminina reprimida e as consequências do colonialismo. Esposa jamaicana de Rochester, confinada como louca, ela representa aspectos da feminilidade que a sociedade vitoriana considerava perigosos. Sua presença assombra Thornfield e impede o casamento de Jane, funcionando como duplo sombrio da protagonista.
Adèle Varens, pupila francesa de Rochester, permite a Jane exercer papel maternal enquanto questiona paternidade e responsabilidade. A criança representa inocência que precisa ser protegida dos vícios adultos, oferecendo a Jane oportunidade de demonstrar capacidades educativas e afetivas.
Moor House e a família Rivers oferecem alternativa à vida em Thornfield. St. John Rivers representa o extremo oposto de Rochester: frio, religioso, dedicado ao dever missionário. Sua proposta de casamento sem amor testa a determinação de Jane de não sacrificar sentimentos pessoais por conveniência social ou religiosa.