A morte violenta de Jesus não foi fruto do acaso, mas parte do mistério do desígnio divino, como Pedro afirmou no dia de Pentecostes: «Entregue segundo o desígnio determinado e a previsão de Deus» (Act 2,23). Tal afirmação não significa que os envolvidos fossem actores passivos num drama previamente determinado por Deus, mas sim que Deus, na sua omnipresença, inclui no Seu plano eterno as respostas livres dos homens à Sua graça.
Herodes, Pôncio Pilatos, judeus e pagãos cumpriram, assim, o plano de salvação divino (Act 4,27-28), que visava libertar a humanidade da escravidão do pecado através da morte redentora de Jesus, o «Servo sofredor» (Is 53). Paulo afirma claramente: «Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras» (1Cor 15,3).
Pedro expressa esta fé, destacando que fomos resgatados «pelo sangue precioso de Cristo, cordeiro sem defeito nem mancha, predestinado antes da criação do mundo» (1Pe 1,18-20). Deus enviou o Seu Filho, assumindo a condição humana sujeita à morte, para reconciliar-nos com Ele: «Cristo, que não conhecera o pecado, Deus fê-lo pecado por amor de nós» (2Cor 5,21). Jesus, na cruz, assumiu solidariamente a nossa condição de afastamento de Deus, clamando em nosso nome: «Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?» (Mc 15,34).
A entrega do Filho por nós revela o amor benevolente de Deus, independente dos nossos méritos: «Foi Deus que nos amou primeiro, enviando o seu Filho como vítima pelos nossos pecados» (1Jo 4,10). Este amor é universal, expresso claramente por Jesus: «Não é vontade do meu Pai que se perca um só destes pequeninos» (Mt 18,14). A Igreja ensina que Cristo morreu por todos, sem excepção.
O Catecismo sublinha que a conversão acontece na vida quotidiana por atos de reconciliação, cuidado pelos pobres, justiça, confissão das faltas, correção fraterna, exame de consciência e aceitação dos sofrimentos. «Tomar a cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho seguro da penitência» (Lc 9,23).
Desde o início, Jesus associou discípulos à Sua vida, revelando-lhes o mistério do Reino e convidando-os à comunhão íntima com Ele: «Permanecei em Mim, como Eu em vós» (Jo 15,4). Esta comunhão tornou-se mais intensa após a Ressurreição e o envio do Espírito Santo, formando os crentes no Corpo Místico de Cristo.
Na Igreja, Corpo de Cristo, destaca-se a unidade dos membros com Cristo, a diversidade de dons e funções, e o papel unificador do Espírito. Pelo Baptismo, somos unidos à morte e ressurreição de Cristo e, na Eucaristia, elevados à comunhão profunda com Ele e entre nós. A unidade espiritual da Igreja supera todas as divisões humanas: «Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; todos sois um em Cristo Jesus» (Gl 3,27-28).
Pelo Baptismo, participamos da morte e ressurreição de Cristo, simbolizadas pela veste branca e vela acesa no círio pascal, indicando nova vida em Cristo. Somos purificados e santificados pelo Espírito Santo, tornando-nos filhos adotivos de Deus, aptos a rezar o Pai-Nosso.
Apesar desta dignidade, o pecado continua presente: «Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos» (1Jo 1,8). Reconhecendo esta realidade, rezamos pedindo perdão pelas nossas ofensas, cientes de que a misericórdia divina depende também da nossa capacidade de perdoar.
Todo baptizado é chamado à castidade, pois ao «revestir-se de Cristo» (Gl 3,27), deve orientar a sua afetividade segundo Cristo, modelo perfeito da castidade, conforme o seu estado de vida. Este compromisso é assumido desde o Baptismo e deve orientar a vida quotidiana dos cristãos.