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Fabiano Calixto é um poeta, tradutor e editor brasileiro. Doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), Calixto participa de vários projetos relacionados ao campo da literatura e poesia. Dirige, com Natália Agra, a editora Corsário-Satã. É um dos editores da revista de poesia Meteöro.. Foi coeditor, com os poetas Ricardo Domeneck, Angélica Freitas e Marília Garcia, da revista Modo de Usar & Co.

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Fabiano Calixto — Matinê Perdida 

foi tudo tão passageiro

como passos de pássaros no telhado

como um f mal desenhado

no caderno de caligrafia

da terceira série

você com seu vestido vermelho

hálito de drops de menta

perfumando tantas dúvidas

e um sorrisinho modernista de nascença

como um contrabando

uma contradança

eu, com meu tênis velho

camiseta desbotada do AC/DC

dois ou três carinhos de colibri

um minuto de silêncio por minuto no peito

uma lua cheia

na carteira vazia

foi tudo tão passageiro

aquela canção do Frank Valli

a soda com limão e gelo

o bolo de brigadeiro

a festa junina no nosso quarteirão

os amigos que já não estão mais

nem aí

nem aqui

o copo cheio de tônica e gim

a coleção de gibi

foi tudo muito passageiro

mesmo com cinquenta fichas

a ligação sempre caía

e chorávamos escondidos

cheios de dor e uísque

sob a concha do orelhão

e nossa oração

dois mil enigmas

nos lábios de amianto

de uma esfinge

a matinê perdida

domingo tecnicolor

deitando sol em nossos sonhos

(o velho domingo e sua gravata florida

agora, apenas uma breve brisa,

uma ferida

mertiolatada)

na pista esperávamos as lentinhas

para poder alimentar o amor

que morava na gente

como um cão sob a marquise

mora no rosto da chuva





o primeiro beijo veio a navio

o coração disparado

o calor suando frio





foi bonito, foi tudo muito bonito

(na verdade, foi bonito pra caralho)

e passageiro

como Sessão da Tarde e pipocas

bolinhos de chuva e catapora

como os sapos que a tempestade traz

para ninar o nosso naufrágio

tudo muito passageiro, sim

mas nunca frágil

continuamos lendo

nossa saudade em cada lenda

e fomos cada qual por sua trilha

nós todos, tombados pelo patrimônio histórico

das coisas do coração

hoje

vemos a areia da vida surfar no abismo

de uma ampulheta

que vai daqui

até as estrelas

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Poema: Matinê Perdida

Poeta: Fabiano Calixto

Voz: Jéssica Iancoski

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