Minha esposa desenhou o vaso de plantas suculentas da minha casa. Mas ela não desenhou somente o vegetal em sua composição biológica. Não foi uma ilustração científica. No espaço circunscrito pela boca do vaso de plástico ela imaginou um mundo. E naquele mundo morava um duende dedicado em seu afazer diário de cuidar da terra. Pequenas borboletas e mosquitinhos voavam em volta das luzes penduradas em ramos e, por entre as folhas, havia uma casa torta de madeira com uma minúscula mansarda. “Deve ser o lugar favorito do duende.” Penso eu. De lá ele deve tomar seu chá e olhar a paisagem do seu mundo que é a minha casa. Espero que esta paisagem pra ele seja tão acalentadora quanto o seu mundo é pra mim. Que ele saiba que se for para o bem ele é bem-vindo e pode me fazer uma visita. Já notei que tem uma escada que desce do vaso, então sei que é possível ele chegar aqui. Vamos tomar um chá de hibisco que eu comprei outro dia. Quero saber o seu nome e lhe apresentar a minha esposa. “Esta aqui é a pessoa que te criou.” Com alguns rabiscos e pinceladas ela resignificou para o sempre um vaso genérico de plástico. O vaso agora não é mais genérico e agora o plástico se tornou no material mais nobre de afeto.
#CRÔNICA #POESIA #IMAGINAÇÃO
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