Há uma torta na janela, que acabou de sair do forno. Um senador colocou lá. Feita da mais alta costura. Ingredientes tão nobres quanto à causa. Não que valha mandar um navio atravessar oceanos atrás da especiaria. Mas é o que tempera a política. Vale, no mínimo, circular no mar de carpete azul. O cachorro que fareja o prêmio nem precisa ser sorrateiro. Os ministros que o vigiam ainda não sentaram, mas já estão lavando as mãos. É que se o bicho come, é festa no Planalto. Mas se comida for, o bicho pega. A letra da lei vira papel manteiga. O regimento, guardanapo. Vão botando a mesa. O cachorro vai chegando. Sente o cheiro da torta e da cadeira boa. Sente o gostinho de oito ano de ração. Catou! Correu! Os ministros correram em vão. Ficou a mesa posta: os pratos, o brinde feito à reeleição. Nos palácios de Brasília, a fome é moeda. E, aos cães, interessam urna, forno e fogão.