A taxa de ocupação dos leitos diminui. O número de mortes não para de crescer. É como se os shoppings abrissem à medida das covas, ou vice-versa. É o futuro do país depositado em um dispenser de álcool em gel. Protocolo, segurança, tênis novo, mãe gentil. O começo do fim é o fim de uma quarentena que nunca existiu. É na claque e na palma. Na mentira institucionalizada. Toda opinião é bem vinda desde que seja aos berros ungidos de glória a um deus de terno, que não teme descer dos céus ao cercadinho do Alvorada. E no dente de alho um ministério deposita sua fé. O enxofre exala, mas não cura. Liberdade para comprar, para morrer e acreditar na mentira que eu quiser. Uma cruz fincada na areia. O choro calado do pai. Um bárbaro a cruz pisoteia. Outra máscara cai. Numerar as mortes é torcer pelo vírus. Dar voz a quem deu adeus sem despedida é pecado. O Brasil assina sua própria certidão de óbito, falta ao trabalho, sem vergonha e não precisa mostrar atestado. A rampa do Planalto foi pintada de sangue e a asfixia curada com respiradores comprados com dinheiro mal pago. No país das narrativas, a incompetência dispensa licitação. Diga se há sentença pior do que, numa peste, ser obrigado a escolher um lado. Li “Deus” na nota de um real, gastei. E que o conflito seja louvado.