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Alianças de ouro é um poema da coleção LIVRO DOS DESASTRES, de 1999.

ALIANÇAS DE OURO

Louca como um bilboquê, tão alegre

E perfeita. Adorável

No rio sem fim dessa noite.

Vampiros cravam seus

Tentáculos

Na lua, vai e vem,

Frenéticos,

Peixes do mar.

Meus seios ávidos são taças de

Sangue

E, porosas, se partem.

Somos só mulheres com bocas

Cheias de sorrisos. Loucas

Que levitam no

Paraíso.

Bonecas calvas de membros amputados

Com suas joias e

Segredos, plasmas

De néctar, planetários e

Doentes. Gargantas agudas, lindas

Tão lindas.

A morte pinga seu silêncio

Vermelho

Sobre a neve.

Nas camas profiláticas

As contraltos vão desfiando seus

Rosários obesos, arquitetas

Do Nepal.

Amor, suas mentiras tão ingênuas.

O enxoval de casamento, o vestido

Rosa-bebê.

As alianças de ouro repousam nos

Relicários, tão

Tristes e belas!

E nas caixas prateadas, as cartas com

Letras invisíveis

Teimam, lacrimejam e mentem,

Mentem

Como um mágico sem truques mas belíssimo.

(Abril/1999)

Izabella Zanchi

Voz: digital aleatória

Izabella Zanchi é autora de Respiração Boca-a-boca (INDEX ebooks, 2019): http://www.indexebooks.com/respiracao.html