Carta aos Hebreus 13,1-8
Irmãos,
[1] perseverai no amor fraterno.
[2] Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela,
alguns hospedaram anjos, sem o perceber.
[3] Lembrai-vos dos prisioneiros, como se estivésseis
presos com eles, e dos que são maltratados,
pois também vós tendes um corpo!
[4] O matrimônio seja honrado por todos e o leito
conjugal, sem mancha; porque Deus julgará os imorais
e adúlteros.
[5] Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta.
Contentai-vos com o que tendes, porque
ele próprio disse:
"Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei".
[6] De modo que podemos dizer, com ousadia:
"O Senhor é meu auxílio, jamais temerei; que poderá
fazer-me o homem?"
[7] Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram
a palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida,
imitai-lhes a fé.
[8] Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda
a eternidade.
Palavra do Senhor.
REFLEXÃO
A hospitalidade é um comportamento social e comum,
e até os maus a praticam, mesmo que seja por razões
que não o testemunho de fé.
Portanto, praticar a hospitalidade não é um pedido
absurdo e nem significa impor um peso sobre o cristão.
Na época, sem muitas opções de hotéis, a hospitalidade
caseira se constituía numa prática corriqueira,
o que nos leva a pensar que o autor estivesse se
referindo a outro tipo de hospitalidade, reflexão
possível e reforçada pela figura dos anjos referida
na passagem.
Anjos são portadores de mensagens, e praticar
hospitalidade pode ser compreendida como respeito
à diversidade de opiniões, mesmo que contrárias
ao próprio Evangelho.
A reflexão é pertinente, se pensarmos numa possível
preocupação do autor de Hebreus com a obstinação
natural dos judeus.
A Carta aos Hebreus é dirigida a judeus cristianizados
espalhados pelo mundo, mas que poderiam voltar às
sua origens, zelosos e obstinados em suas convicções
e tradições, e fechados para a missão.
Esta reflexão nos leva também a outro equivoco,
dos mais constrangedores, e de muitos cristãos em
todos os tempos, o fundamentalismo, originalmente
um termo que identifica a preocupação com a verdade,
mas que se tornou uma obsessão e um fim em si
mesmo, o que afasta as pessoas que pensam diferente.
Se até a vocação da humanidade é construir relações
que promovam a convivência fraterna, muito mais a dos
cristãos, é promover condições para que Cristo se torne
o Salvador de todos.
Cristo praticou a hospitalidade ao discutir com líderes
religiosos, mesmo sabendo da intransigência deles.
Pelo menos Nicodemos se converteu.
Os apóstolos praticaram a hospitalidade, mesmo
ameaçados pelos sinedritas.
Pelo menos Gamaliel se converteu.
Hospitalidade, sim, fundamentalismo, não.