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Meses ou anos se passam de um casamento, de uma amizade ou de uma sociedade. De repente você e seu parceiro estão na fila do self-service, no almoço rápido para retornar ao trabalho. O companheiro serve-se de jiló – um fruto polêmico.

Surge o comentário na sua mente: "ué, mas ele nunca gostou disso!". O pensamento se faz voz e o companheiro retruca: "eu sempre gostei, talvez você que nunca percebeu", ou então "eu comecei a gostar desde a semana passada". A resposta incomoda ambos, de alguma forma.

Ao sentarem-se, um pensamento fica em você: "ele nunca gostou e está dizendo que gosta"; e na mente do companheiro "que comentário bobo, parece que está querendo controlar meus gostos".

Nesse embate do Jiló, existe uma tendência a já se julgar conhecedor(a) daquele outro diante de ti. Julgamento ilusório e propício para manter uma falsa segurança do relacionamento. Melhor seria se perguntar: "por que eu nunca percebi isso ou por que essa conversa me incomoda?".

A palavra "incomodar" é interessante e não podemos passar por ela sem mais. É uma palavra que nos tira dessa falsa segurança da relação e/ou então que evidencia nossas expectativas sobre o outro. Incomodar tira-nos do cômodo. Que pode ser até ampliado como um compartimento de uma casa, toda organizada.

Tendemos a querer enxergar o outro como um cômodo em nossas vidas. Mas, o incomodo lembra-nos que o outro não é um objeto ou uma ordem, mas um sujeito que possui uma alta complexidade e caos. Que pode ter gostos e comportamentos dos quais você jamais esperaria.

Estar em um relacionamento, seja ele qual for, é um dos maiores desafios e uma das maiores oportunidades do ser humano para promover o autoconhecimento. Reconhecer-se diferente e respeitar essa condição significa que você enxerga o outro e a si. O nome disso é alteridade.

Pode parecer fácil no começo, quando se trata do jiló, contudo, essa tarefa de nada é fácil quando pensamos nos aspectos da vida como poupar dinheiro, forma de demonstrar amor, comunicação entre os parceiros, filosofia de vida e espiritualidade.

Todos nós carregamos memórias, sentimentos e afetos que nos dão referência de vida. A correspondência perfeita dessas preferências é ilusória. Por isso, presenciamos muitas pessoas em busca incessante e infrutífera de um par ideal. Temos sim correspondências próximas, mas não perfeitas.

Essa busca incessante pelo par ideal depõe contra a alteridade e nos mantém em um estado psíquico infantil. Levando ao caminho oposto do autoconhecimento. E ainda, pesamos a relação ao acreditar que a frustração que sentimos é da responsabilidade do outro. E o outro deveria mudar. Isso, no entanto, é um mecanismo de defesa. Chamamos isso de projeção. Muitas vezes ela é importante para mantermos certa integridade da psique, por outras, ela é um impeditivo para os relacionamentos.

Quando, por exemplo, um cliente traz esse tema, gosto que imaginar com ele que existe tanto um(a) parceiro(a) de fora quanto um(a) de dentro. Um reside em sua psique, o outro no mundo de fora. Por isso, mesmo tendemos a confundi-los. Às vezes, tanto o de dentro como o de fora tem a mesma atitude, mas, em outras, são totalmente opostas, gerando a frustrações.

Se escutarmos somente o parceiro de dentro, o de fora tende a perder o seu valor. Se escutarmos somente o de fora, perderemos nossa própria referência de vida e ficaremos cegos à alma. Se escutarmos os dois, confrontando e reconhecendo tanto dentro como fora, nos tornaremos mediadores, e poderemos suportar as frustrações quando vierem e respeitar o parceiro de fora. Gerando, por fim, autoconhecimento e uma relação funcional.

No fundo, tudo isso é uma corda bamba a qual nos jogamos! A harmonia só vem a partir do confronto com fora e dentro, sempre pelo caminho do respeito. O que surge disso não possui outro nome senão: Amor.