Listen

Description

Dentro da noite de Olavo Bilac por Gus

Ficas a um canto da sala,

Olhas-me e finges que lês...

Ainda uma vez te ouço a fala,

Olho-te ainda uma vez;

Saio... Silêncio por tudo:

Nem uma folha se agita;

E o firmamento, amplo e mudo,

Cheio de estrelas palpita.

E eu vou sozinho, pensando

Em teu amor, a sonhar,

No ouvido e no olhar levando

Tua voz e teu olhar.

Mas não sei que luz me banha

Todo de um vivo clarão;

Não sei que música estranha

Me sobre do coração.

Como que, em cantos suaves,

Pelo caminho que sigo,

Eu levo todas as aves,

Todos os astros comigo.

E é tanta essa luz, é tanta

Essa música sem par,

Que nem sei se é a luz que canta,

Se é o som que vejo brilhar.

Caminho em êxtase, cheio

Da luz de todos os sóis,

Levando dentro do seio

Um ninho de rouxinóis.

E tanto brilho derramo,

E tanta música espalho,

Que acordo os ninhos e inflamo

As gotas frias do orvalho.

E vou sozinho, pensando

Em teu amor, a sonhar,

No ouvido e no olhar levando

Tua voz e teu olhar.

Caminho. A terra deserta

Anima-se. Aqui e ali,

Por toda parte desperta

Um coração que sorri.

Em tudo palpita um beijo,

Longo, ansioso, apaixonado,

E um delirante desejo

De amar e de ser amado.

E tudo, - o céu que se arqueia

Cheio de estrelas, o mar,

Os troncos negros, a areia,

Pergunta, ao ver-me passar:

“O Amor, que a teu lado levas,

A que lugar te conduz,

Que entras coberto de trevas,

E sais coberto de luz?

De onde vens? Que firmamento

Correste durante o dia,

Que voltas lançando ao vento

Esta inaudita harmonia?

Que país de maravilhas,

Que Eldorado singular

Tu visitaste, que brilhas

Mais do que a estrela polar?”

E eu continua a viagem,

Fantasma deslumbrador,

Seguido por tua imagem,

Seguido por teu amor.

Sigo... Dissipo a tristeza

De tudo, por todo o espaço,

E ardo, e canto, e a Natureza

Arde e canta, quando eu passo,

Só porque passo pensando

Em teu amor, a sonhar,

No ouvido e no olhar levando

Tua voz e teu olhar...

Edição por Felipe Xavier