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Description

Midsummer’s night’s dream de Olavo Bilac por Gus

Quem o encanto dirá destas noites de estio?

Corre de estrela a estrela um leve calefrio,

Há queixas doces no ar... Eu, recolhido e só,

Ergo o sonho da terra, ergo a fronte do pó,

Para purificar o coração manchado,

Cheio de ódio, de fel, de angústia e de pecado...

Que esquisita saudade! - Uma lembrança estranha

De ter vivido já no alto de uma montanha,

Tão alta, que tocava o céu... Belo país,

Onde, em perpétuo sonho, eu vivia feliz,

Livre da ingratidão, livre da indiferença,

No seio maternal da Ilusão e da Crença!

Que inexorável mão, sem piedade, cativo,

Estrelas, me encerrou no cárcere em que vivo?

Louco, em vão, do profundo horror deste atascal,

Bracejo, e peno em vão, para fugir do mal!

Por que, para uma ignota e longínqua paragem,

Astros, não me levais nessa eterna viagem?

Ah! quem pode saber de que outras vida veio?...

Quantas vezes, fitando a Via-Láctea, creio

Todo o mistério ver aberto ao meu olhar!

Tremo... e cuido sentir dentro de mim pesar

Uma alma alheia, uma alma em minha alma escondida,

O cadáver de alguém de quem carrego a vida...

Edição por Felipe Xavier