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Description

Na margem de Castro Alves por Mell

"VAMOS! VAMOS! Aqui por entre os juncos

Ei-la a canoa em que eu pequena outrora

Voava nas maretas... Quando o vento,

Abrindo o peito à camisinha úmida,

Pela testa enrolava-me os cabelos,

Ela voava qual marreca brava

No dorso crespo da feral enchente!

Voga, minha canoa! Voga ao largo!

Deixa a praia, onde a vaga morde os juncos

Como na mata os caititus bravios...

Filha das ondas! andorinha arisca!

Tu, que outrora levavas minha infância

— Pulando alegre no espumante dorso

Dos cães-marinhos a morder-te a proa, —

Leva-me agora a mocidade triste

Pelos ermos do rio ao longe... ao longe..."

Assim dizia a Escrava...

Iam caindo

Dos dedos do crepúsc'lo os véus de sombra,

Com que a terra se vela como noiva

Para o doce himeneu das noites límpidas ...

Lá no meio do rio, que cintila,

Como o dorso de enorme crocodilo,

Já manso e manso escoa-se a canoa.

Parecia, assim vista ao sol poente,

Esses ninhos, que tombam sobre o rio,

E onde em meio das flores vão chilrando

— Alegres sobre o abismo — os passarinhos!...

Tu — guardas algum segredo?...

Maria, stás a chorar!

Onde vais? Por que assim foges,

Rio abaixo a deslizar?

Pedra — não tens o teu musgo?

Não tens um favônio — flor?

Estrela — não tens um lago?

Mulher — não tens um amor?

Edição por Felipe Xavier