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“Não sou artista, não faço arte, faço denúncia social.”

(João Zinclair – operário da fotografia. )

“Isso não é arte!”

dirão

– entre esbaforidos e consternados –

ao verem que teu poema

(ou tua pintura, ou tua música, tua dança, filme, foto ou cena)

age.

Ao verem que teu poema

luta

clama

denuncia

chora

consola

abraça

gospe

grita

Ao verem que teu poema

surta

explode

insulta

vomita

urra

e pira

Ao verem que teu poema

planeja

pensa

analisa

lembra

relembra

conspira

Ao verem que teu poema

lambe

morde

brinca

beija

ri e

fode

…que teu poema

mira.

Enfim,

sempre dirão

– entre esbaforidos e consternados –

“Isso não é arte!”

ao verem que teu poema

tem urgência

e utilidade.

Ao ouvir tal sentença,

poupa tua fala…

sorri com classe…

com toda tua Classe!

(sorri com a calma

com que respira

o metrô lotado

à tarde…)

[Veja,

eles pensam assim porque vivem

numa partezinha da vida

– numa minúscula classe –

onde não há problemas, grandes medos, dores, necessidades

e, portanto,

há tempo e “futuro” de sobra

pra se divertirem com essas palavras antiquadas

“posteridade” “eternidade” “arte”…]

Ao te dizerem

“Isso não é arte!”

…sorri, apenas, e diga:

“Tampouco isto é vida.”



Jeff Vasquez