Donzela em perigo? Faça valer a pena!
Voltando às personagens, entraremos em um ponto que se tornou polêmico, porém continua tão intimamente ligado à fantasia heroica que se tornou difícil ignorá-lo. A figura da donzela em perigo vem desde a antiguidade, sendo contestada por diversos motivos; entretanto, aqui deixaremos de lado a visão pós-moderna feminista, concentrando-nos na construção do enredo e das personagens.
Em diversas histórias, percebemos que as donzelas em perigo não passam de artifícios para mover o enredo, ou ao menos para motivar o herói. Não afirmo que deveríamos riscá-las de vez dos enredos, e sim ponderar sobre seu papel na construção da trama. Faça um teste: quantas personagens femininas em obras de fantasia poderiam ser substituídas por objetos (pedras mágicas, amuletos e afins) roubados pelos vilões, sem ocorrer prejuízo no enredo? Se elas forem inexpressivas na trama, é o mais sensato a se fazer, até para evitar o excesso de personagens desinteressantes.
O problema de caracterização costuma ser evitado quando a personagem é criada pelo autor antes da situação na qual ela precisará ser resgatada, ou se o leitor a conhece antes de assumir a condição de donzela em perigo na trama. Em tramas onde o resgate dessa donzela é o ponto principal do enredo, é possível dividir a história em dois núcleos, sendo um deles o dos heróis indo salvá-la e o outro focado na prisioneira e suas agruras; este segundo núcleo pode servir como uma oportunidade perfeita para desenvolver os vilões, mostrando sua base, seus exércitos, objetivos, etc...
É possível aumentar a importância da donzela no enredo, de diversas maneiras: que tal uma princesa que escapa sorrateiramente da prisão, enquanto heróis e vilões digladiam? Ou então uma garota que seduz o vilão, a fim de arrancar segredos dele, e contá-los aos heróis mais tarde? A fantasia é tão ampla que permite alternativas interessantes para a mocinha em perigo se destacar. Por exemplo: a princesa foi induzida a um sono profundo pela magia do vilão, e trancafiada em um cristal gigante? Sem problemas! Ela é uma feiticeira que consegue viajar pelo mundo dos sonhos, e se comunica com o herói quando ele dorme.
Se preferir o caminho tradicional, com a mocinha indefesa sendo salva pelo herói, apenas vá em frente. Não tenha medo de usar esse arquétipo, mesmo se aparentar clichê, ou se alguém o acusar de “diminuir a figura da mulher”, até porque essas possibilidades no resgate também são válidas para autores que preferirem usar homens em situação de perigo, no lugar das donzelas. O diferencial aqui está em tornar essa personagem relevante, bem como sua captura na história.
Autor: Mateus Ernani Heinzmann Bülow.
*Mateus, o autor do Podcast de hoje, é gaúcho da cidade de Santa Maria/RS, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor dos livros "Taquarê -- Entre a Selva e o Mar" e "Taquarê: Entre um Império e um Reino".
*Mateus Bülow está em parceria e colaboração com Tatyana Casarino no Podcast "Literatura em Ação" no Spotify e no YouTube. O objetivo do Podcast "Literatura em Ação" é compartilhar dicas e conselhos para jovens escritores.
*Mateus também é colunista do Blogue "Recanto da Escritora" de Tatyana Casarino.
*Blogue da Taty Casarino: https://tatycasarino.blogspot.com/
*Confiram o texto que o Mateus Bülow escreveu sobre Literatura Fantástica no Blogue da Taty:
https://tatycasarino.blogspot.com/2019/08/dicas-de-escrita-fantasia.html