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Faça linguagens adequadas a cada personagem.

        Antes que alguém se levante e faça objeções, quero deixar claro que esta dica não se trata de criar idiomas novos, como fez Tolkien, Frank Herbert (autor da série Duna), entre outros escritores, mas não vejo nada de errado em quem desejar fazê-lo. Por “fazer linguagens adequadas a cada personagem”, eu me refiro a escrever os diálogos de forma convincente, conforme o histórico e plano de fundo disponível sobre eles.

        Um aspecto comum da literatura fantástica é a presença de muitos personagens com histórias passadas diferentes entre si, vendo-se obrigados a montar uma equipe. Experiências de vida moldam não apenas o caráter, como também a linguagem: um guerreiro bárbaro não terá o vocabulário de um cavaleiro nobre; um bruxo nascido e criado em um lugar ermo, longe da civilização, não se comunicará com a formalidade de um rei.

        À primeira vista, criar vocabulário diferenciado pode soar difícil, porém é mais simples que se imagina. Pessoas de origens modestas costumam falar de forma direta, e raramente soltam expressões como “porvir”, “gorjeio”, “veemência” e “triênio”. Não estou afirmando que estes indivíduos são ignorantes, e sim apontando um fato; e se a história se passa durante a Era Medieval (ou num mundo fantástico inspirado nesse período), pode ter certeza que a diferença de linguagem entre nobres e plebeus será ainda mais acentuada.

        Entretanto, a linguagem deve servir ao personagem, e não o contrário. Digamos, por exemplo, que o protagonista é um caçador rude vindo das terras montanhosas, em busca de serviço como mercenário nas tropas de um reino civilizado; o destino acaba aproximando-o da filha mais velha do rei, uma leitora contumaz, e ambos absorvem traços um do outro: o “bárbaro” aprende a gostar de ler, buscando falar de forma mais polida perto da princesa, enquanto ela utiliza menos formalidade ao lado dele. Essas mudanças graduais nas linguagens dos personagens são excelentes para demonstrar o crescimento deles.

        Na escrita da fantasia é comum ver dois vícios nos diálogos dos personagens mais humildes: uso frequente de erros propositais de ortografia e xingamentos. Evite o primeiro, e seja moderado no segundo. Retratar gente mais humilde falando errado é um método preguiçoso, ainda mais se considerarmos as dicas aqui apresentadas... E para os palavrões, sugiro deixá-los para ocasiões nas quais seu uso é compreensível, como quando um monstro horrível aparece diante dos heróis, ou quando um personagem está muito irritado.

  Autor: Mateus Ernani Heinzmann Bülow.

   Mateus, o autor do episódio do Podcast de hoje, é gaúcho da cidade de Santa Maria/RS, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), escritor, poeta e autor dos livros "Taquarê -- Entre a Selva e o Mar" e "Taquarê: Entre um Império e um Reino". 

    Mateus Bülow está em parceria e colaboração com Tatyana Casarino no Podcast "Literatura em Ação" no Spotify e no YouTube. O objetivo do Podcast "Literatura em Ação" é fornecer dicas e conselhos para jovens escritores. 

    Mateus também é colunista do Blogue "Recanto da Escritora" de Tatyana Casarino. Confiram o texto que ele escreveu sobre Literatura Fantástica no Blogue da Taty: 

https://poetisataty.blogspot.com/2019/08/dicas-de-escrita-fantasia.html

https://poetisataty.blogspot.com/