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Autor: Pe. Sávio Zanetta, L.C. 

Um dos traços que, há trinta anos, atraíram poderosamente o meu coração quando encontrei a Legião de Cristo e, por seu meio, o Regnum Christi, foi a catolicidade. O fato de poder estar na mesma mesa com pessoas de cinco ou seis nacionalidades diferentes e de se acharem em casa era surpreendente e, ainda hoje, fonte de alegria. Este fato tem o seu fundamento mais profundo numa das realidades mais consoladoras da nossa fé: a da comunhão dos santos.

Não é uma ideia bonita, é uma realidade. Se olharmos no nosso interior descobriremos que por um lado, lá no fundo, temos um grande medo de ficar sozinhos. O Papa Ratzinger numa das reflexões sobre o Sábado Santo o descreve de forma magistral com uma comparação. Escutem: “Se uma criança tivesse de se aventurar sozinha na noite escura através de um bosque, teria medo mesmo que lhe demonstrassem centenas de vezes que não há perigo algum. Ela não tem medo de algo determinado, ao qual se possa dar um nome, mas, na escuridão, experimenta a insegurança, a condição de órfão, o caráter sinistro da existência em si. Só uma voz humana poderia consolá-la; só a mão de uma pessoa querida poderia afugentar a angústia como um sonho ruim”.

É certo, pensar a uma vida de solidão eterna nos apavora. Mas, por outro lado aquele medo nos indica nossa vocação profunda, aquela de se doar aos outros, de ser fecundos pelo bem que intercambiamos e semeamos na vida do próximo. Não podia ser diferente, visto que estamos feitos a imagem dum Deus trinitário, é dizer, dum Deus que é comunhão.

Mas além desta condição natural está o grande milagre de ser um em Cristo, Ele é a videira e nós somos os ramos, enxertados nele fazemos parte dum circuito sanguíneo misterioso, mas real, onde recebemos e distribuímos a graça que vem do Senhor.

De fato, como nos recorda o catecismo a partir do número 946 a comunhão dos santos se entende de duas formas: 1º comunhão nas coisas santas: Os atos dos Apóstolos nos dizem quais são estas “coisas santas” “Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações”. É dizer: na escuta da palavra de Deus, na caridade, nos sacramentos e na oração 2º comunhão entre as pessoas santas: enxertados em Cristo estamos, por dizer assim, “em rede” com nossos irmãos e irmãs e não importa a distância geográfica, nem o tempo, pois os bens espirituais circulam nesse corpo e alcançam os nossos contemporâneos, mas também os que já entraram na eternidade: existe todo um movimento de graça que, em Cristo, vá de nós para eles e de eles para nós.

Tomara que a consciência de este grande mistério nos console, mas também nos impulse a colaborar conscientemente no fortalecimento dos vínculos fraternos: somos irmãos na peregrinação rumo a casa do nosso único Pai quanto bem nos faz experimentar que não estamos sozinhos no desejo das coisas do alto, apoiemo-nos então entre todos pela caridade e a oração, partilhamos entre todos as boas ideias, leituras, luzes que Deus nos outorgou.