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O Abraão hospedeiro, marido, profeta e pedagogo é, agora, o Abraão intercessor. Ele conhece o poder da intercessão, por isso luta com Deus. Henry Morris diz que temos nesse episódio o mais notável exemplo de oração intercessora na Bíblia.1 Seu nome pode ser visto ao lado de grandes intercessores, como Moisés, Samuel, Elias, Jeremias, Daniel, os apóstolos e o próprio Senhor Jesus. Diante do iminente juízo lavrado sobre Sodoma, ele, que já havia lutado para salvar seu sobrinho da invasão da cidade, intercede, agora, para que as cidades de Sodoma e Gomorra, e, por conseguinte, seu sobrinho, sejam poupados. Warren Wiersbe diz que Abraão sentia um peso no coração por Ló e sua família, bem como pelos pecadores perdidos das cinco cidades da planície, e precisa compartilhar esse peso com o Senhor.
Destacamos aqui sete pontos importantes: Em primeiro lugar, o agravamento do pecado (18.20). Os pecados das duas cidades principais situadas às margens do mar Morto, Sodoma e Gomorra, haviam se multiplicado e se agravado muito. Aquelas cidades eram extremamente perversas (13.13), pois os homens dessas cidades eram dados a práticas sexuais contrárias à natureza (19.5; Jd 7; Rm 1.27); além disso, os homens não tentaram esconder seus pecados (Is 3.9) nem se arrependeram deles (Jr 23.14).18 Derek Kidner diz que o clamor de Sodoma e Gomorra pode significar o brado contra ela ou simplesmente o mal gritante do lugar. Essa palavra é um termo técnico da linguagem judicial que designa o pedido de socorro emitido por alguém cujos direitos estão sendo violentamente desrespeitados. Deus então ouve o grito dos violentados e interfere como juiz.
Em segundo lugar, a investigação realizada (18.21). A interferência começa com uma investigação, um inquérito judicial, a respeito da veracidade das queixas. Deus, como o reto juiz, não pune o inocente nem inocenta o culpado. Os pecados de Sodoma e Gomorra são averiguados e constatados. Waltke, nessa mesma linha de pensamento, diz que a expressão descerei e verei é a forma figurada de o narrador dizer que Deus investiga sempre e plenamente o crime antes de lavrar a sentença (3.11-13; 4.9-12; 11.5).22 Nas palavras de Livingston, Deus não executa julgamentos baseado em rumores.
Em terceiro lugar, o intercessor permanece na presença do SENHOR (18.22). A ação dos hóspedes de Abraão começa e termina com esperança e vida para Abraão e Sara e juízo e morte para o povo de Sodoma e Gomorra. Enquanto os dois anjos saem da casa de Abraão rumo a Sodoma, o patriarca permanece na presença do Senhor, pois tem uma causa a defender e uma súplica a fazer. Para isso, ele precisa se agarrar ao Senhor.
Em quarto lugar, o intercessor apela para o caráter justo de Deus (18.23,25). Abraão compreende que Deus não pode negar a si mesmo nem agir contra Seus próprios atributos, e, por ser justo, Deus não pode condenar o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Em outras palavras, sua intercessão está baseada na justiça de Deus. Waltke diz que Abraão propõe que o futuro de todos seja determinado não pelos perversos no seio da comunidade, mas pelos justos.
Em quinto lugar, o intercessor insiste com Deus (18.24-32). Abraão apresenta seis pedidos a Deus. Em sexto lugar, o intercessor demonstra ousadia e humildade (18.27). Abraão é ousado ao atrever-se em falar insistentemente com Deus, mas ao mesmo tempo reconhece que é pó e cinza. Como diz Bräumer, Abraão não exige nada de Deus. Seus pedidos são submissos, apresentados a Deus com o coração muito dolorido, por isso pede várias vezes: Não se ire o SENHOR.
Em sétimo lugar, o intercessor se rende ao propósito soberano de Deus (18.33). Abraão cessa de falar, o Senhor se retira, e ele volta para o seu lugar. LOPES, Hernandes Dias - Gênesis: A origem da vida