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Deus nos chama. Se o lugar onde estamos não é onde devemos estar, Deus nos chama para sair. Foi assim com Abraão: Ur não era o seu lugar. Pela fé, que é a certeza de que vamos receber as coisas pelas quais esperamos (Hebreus 11.1a), Abraão atendeu ao chamado de Deus e saiu. Abraão se tornaria maior que Ur. Se a vida que levamos não transborda, pela fé devemos crer que Deus nos chama para outra vida. Se há pessoas que devem ser alcançadas pela benevolência de Deus, ele as chama para abençoá-las. Abraão foi chamado para abençoar toda a humanidade, incluindo nós mesmos. Os chamados que atendem ao convite de Deus são felizes.

Em que a vida e a trajetória de Abraão nos enriquecem hoje, quatro mil anos depois? Refaçamos seu trajeto desde Ur (hoje Tell Muqqayar, no atual Iraque) a Hebron (32 km ao sul de Jerusalém, na Palestina). Do berço ao túmulo, Abraão peregrinou por 1.500 km, uma distância enorme para época, tanto pelos meios de transporte (camelos) quanto pelas condições das estradas. As mudanças de Abraão foram topográficas (isto é, de lugar). Como ele, também mudamos, seja de bairro, de cidade, de estado e mesmo de país. Algumas mudanças mudam a nossa vida. Em certo sentido, sempre precisaremos mudar. Em alguns casos, será bom mudar. Ao deixar Ur, Abraão entrou para a (nossa) história. Se ficasse em Ur, não saberíamos dele. Abraão deixou Ur porque compreendeu que Deus, sobre quem pouco sabia, tinha um projeto para ele e ele decidiu fazer parte desse projeto. As mudanças de Abraão não foram apenas topográficas. Ele mudou de Deus. Em Ur, os deuses disputavam a adoração. Fora do panteão, Abraão teve uma experiência com o Deus único porque Deus se deu a conhecer. Começava ali um relacionamento que foi se estreitando ao longo da vida de Abraão, dando-lhe a alegria de crer. Abraão foi um homem que aprendeu a gerenciar conflitos. Ele estava em Ur quando algo (talvez uma dificuldade econômica, que Deus usou para tirá-lo da Mesopotâmia, ou talvez a morte do irmão Harã) lhe aconteceu. Mudou-se. Estabeleceu-se em Harã, talvez a contragosto, porque Deus o chamava para outro lugar. Quando teve a convicção que era preciso mudar, adotou o sobrinho Ló como filho e se mudou. Quando seu sonho de ser pai se frustrou, ele aceitou. Quando a esposa sugeriu um plano alternativo (uma mãe de aluguel), ele aceitou. Quando Ismael nasceu, ele o amou. Quando Isaque nasceu, ele o amou. Quando Deus lhe pediu Isaque, ele aceitou. Quando a fome bateu, deixou sua casa e mudou-se para o Egito. Ao longo da vida, mudamos porque nós mesmos mudamos, porque as pessoas mudam, porque as coisas mudam. Abraão mudou e se mudou (de lugar) várias vezes. Abraão era dotado de uma enorme capacidade de se adaptar. Se queremos superar os reveses, temos que nos adaptar, enfrentando o que pode ser enfrentado, aceitando o que não pode (há coisas que não podemos alterar), contribuindo sempre para que novas realidades apareçam. Todos somos chamados para sair de onde estamos, cheios de energia para fazer o bem.
AZEVEDO, Israel Belo de - Bíblia Sagrada Bom Dia