Ninguém tinha uma reputação pior no mundo antigo que os cretenses. Os povos de pior fama no mundo antigo eram os cretenses, os silicianos e os capadocios. Os cretenses eram famosos como bêbados, insolentes, mentirosos, indignos de confiança alguma e glutões.
Sua avareza era proverbial. Polibio disse: "Os cretenses devido a sua avareza inata, vivem num estado perpétuo de disputa privada, contenda pública e luta civil... e em poucos lugares se encontrarão pessoas mais enganosas e falsas que os cretenses." Escreve a respeito deles: "O dinheiro é tão valorado entre eles, que não só se pensa que é necessário possuí-lo, mas sim é altamente recomendado fazê-lo; e em realidade a cobiça e a avareza são tão nativas em Creta, que são os únicos no mundo entre os que todas as afrontas têm que ver com lucros."
Polibio nos fala a respeito de um certo pacto que um traidor chamado Bolis fez com um dirigente chamado Cambilo, que era também cretense. Bolis aproximou-se de Cambilo "com toda a sutileza de um cretense". "Este foi então o tema da discussão entre eles, num verdadeiro espírito cretense. Nunca tomaram em consideração salvar à pessoa em perigo, nem suas obrigações de honra para com aqueles que lhes tinham confiado a empresa, mas sim confinaram a discussão totalmente a questões de sua própria segurança e de sua própria vantagem. Como ambos eram cretenses não demoraram muito em chegar a um acordo unânime." O desprezo do historiador grego por estes cretenses se respira através de toda a passagem.
Tão famosos eram os cretenses que os gregos chegaram a criar um verbo kretizein, ser cretino, que significava mentir e enganar; e tinham um provérbio: kretizein pros Kreta, ser cretino contra Creta, que significava contrapor mentira a mentira, assim como um diamante corta a outro.
A citação que faz Paulo é em realidade do poeta grego chamado Epimênides. Viveu cerca do ano 600 a.C. e foi considerado como um dos sete sábios da Grécia. A primeira frase: "Os cretenses são sempre mentirosos", ficou famosa por meio de outro e igualmente famoso poeta chamado Calímaco. Em Creta havia um monumento que se chamava A Tumba de Zeus. Obviamente o maior dos deuses não podia morrer e ser enterrado numa tumba, e Calímaco citou isto como um exemplo perfeito da mentira cretense. Os cretenses eram famosos por serem mentirosos, enganadores, glutões e traidores.
Aqui precisamente está o ponto bonito. Sabendo isto, e havendo-o experimentado, Paulo não diz a Timóteo: "Deixa-os sozinhos, não há esperança para eles e todos sabem." Diz: "São maus e todos sabem. Vá lá e converta-os." Há poucas passagens que demonstram desta maneira o otimismo do evangelista e missionário cristão, que se nega a considerar a ninguém como irremediável. Quanto maior é o mal, maior é o desafio. Os cristãos estão convencidos de que não há nenhum pecado demasiado grande para que a graça de Jesus Cristo o enfrente e o conquiste. BARCLAY, The Letter to Titus