Enquanto temos força, por pouca que seja, precisamos reuni-las para voar. Foi o que pensou — pensou e fez aquela mulher. (Quantas vezes pensamos, mas não fazemos; desejamos, mas não decidimos; decidimos, mas não agimos!) Cansada da sua condição (no caso, com uma doença que lhe consumira os músculos, os recursos e as amizades), soube que Jesus estava no sua cidade. Foi atrás e logo descobriu as impossibilidades. Queria chegar perto dele, mas era impossível, tantas eram as pessoas que o cercavam. Se ele falava, ela só ouvia o vozerio indefinido da multidão, talvez pessoas como ela, querendo a mesma liberdade. O desejo era maior que a impossibilidade. Chegar até ele sem ajuda era uma dificuldade. Mas ela queria. Falar não conseguiria. Quem sabe, tocar nele. Então, foi se orientando pelo que ouvia, em busca do centro. Ele devia estar no centro daquela multidão. A necessidade de o encontrar era maior que a dificuldade. E foi abrindo caminho. Conseguiu perceber um homem a quem abraçavam, apertavam, empurravam. Devia ser ele. Deu a volta. Ficou de frente. Era ele mesmo. Tentou se aproximar mas, de repente, acabou afastada. Perdeu a chance. Mas não podia perdê-la. Não podia perdê-lo. Um fracasso não tem de ser uma derrota. E antes que desaparecesse, tocou no seu corpo, talvez apenas na sua túnica. No momento em que seus dedos, cheios de fé, tocaram a túnica de Jesus, o corpo da ousada mulher pareceu se incendiar. O corpo de Jesus também se agitou, como se alguém lhe tivesse roubado uma carteira (que não tinha). Ela perdeu o ritmo e se afastou um pouco, sem compreender. Estava feliz porque conseguira. O inesperado veio depois. “Jesus virou-se, viu a mulher e disse: ‘Coragem, minha filha! Você sarou poque teve fé’. E naquele momento a mulher ficou curada”. Ele partiu e ela ficou, seguindo-o agora no coração, livre e feliz. AZEVEDO, Bíblia Sagrada Bom Dia