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Description

O desânimo não escolhe idade. Pode vir para todos. Vem para o jovem, que tem uma longa vida pela frente e talvez venha precisamente por isso. Vem para o idoso, que sente a crueza do seu fim e talvez venha exatamente por isso. Vem para a criança, feita toda de sonhos que não se tornam concretos na vida dela. O desânimo vem por causa de uma decepção, nem sempre percebida, com pessoas e causas. O tempo e o talento investidos na amizade ou no ideal soam como tempo e talento desperdiçados e como um aviso de que lutar não vale a pena. O desânimo vem em meio ao cansaço, esse ladrão de energia que usa diferentes disfarces para atacar de surpresa. O desânimo vem por causa do sucesso. Se havia um projeto que concentrava todos os esforço, noite e dia, o fim desse projeto é o início do vazio. O desânimo é pluriforme em sua origem. Não devemos nos desesperar por vivenciar um período de desânimo, mesmo que sejamos geralmente animados. Devemos nos preocupar se a condição se insinua como permanente. Devemos sempre ter diante de nós o que queremos para a nossa vida. Precisamos saber que alguns dos nossos desejos são voláteis por definição, como a fama, o poder e o dinheiro. Precisamos de coragem para dizer o que nos motiva a viver. Se essas são as nossas buscas, precisamos buscar outras, porque já sabemos o nosso destino com elas: o nada. Precisamos de criatividade para formular projetos bons, mas nós não somos nossos projetos. Nós os temos e somos maiores que eles. Nossa vida não acaba quando um projeto termina. Se o desânimo se aninhou no nosso coração depois da vitória, talvez tenhamos posto o sentido da nossa vida na realização de um projeto. Nós o realizamos? Deveríamos nos sentir felizes. Uma tarefa cumprida é motivo para alegria. Se o desânimo se instalou por causa de alguma frustração, precisamos avaliar as origens do mal-estar e retomar nossas ações para dificultar que ela retorne. Se o desânimo é filho do cansaço, sabemos o que fazer. Por isso mesmo Deus estabeleceu o dia do descanso. Até a terra precisa descansar. Não viemos da terra? Sobretudo, devemos manter desperto nosso sentido de relevância. Essa é a decisão matricial. Temos muito ainda para ser. Ainda não somos o que podemos ser. Há mais para nós. Não importa o que conquistamos. Temos muito ainda para fazer. Ainda não fizemos o que podemos fazer. Há mais para nós. Não importa a nossa idade. Temos muito ainda a contribuir. Ainda não entregamos tudo o que podemos. Há mais para os outros a partir de nós. Não importa o quanto tenhamos ajudado. O mundo (nossa família, nossa rua, nosso trabalho, nossa comunidade, nosso corpo, nossa mente) pode ser melhor. É o que queremos? Que viver num mundo melhor seja o nosso desejo. Que viver para um mundo melhor seja a nossa ideologia. Prossigamos. AZEVEDO, Bíblia Sagrada Bom Dia