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Com o início da pandemia, muita gente passou a trabalhar em casa, na  modalidade teletrabalho, que no Brasil ficou conhecida como home office.  Essa tendência que já despontava como alternativa antes da COVID-19,  hoje se tornou praticamente normal em todo o mundo.  Junto com o trabalho online vieram também as reuniões remotas. A palavra  “invite” entrou em moda. São reuniões quase sequenciais, onde os  horários vão se estendendo entrando, muitas vezes, madrugada adentro.

Estudos recentes mostram que essas reuniões, que poderiam facilitar  nossas vidas, estão, na verdade, causando uma sobrecarga de trabalho. Essa nova rotina tem gerado, segundo pesquisa da Microsoft, uma fadiga  de reuniões. O campo da pesquisa foi a própria empresa que acompanhou a  rotina de catorze funcionários. Eles participaram de reuniões virtuais  usando um aparelho de eletroencefalograma, que é capaz de captar sinais  elétricos emitidos pelo cérebro. Em um dia, os voluntários participaram de quatro reuniões seguidas de  meia hora, que tratavam sobre assuntos diferentes. Em outro dia, os  participantes também entraram em outras quatro reuniões de trinta  minutos, mas dessa vez fizeram um intervalo de dez minutos entre cada  uma. Durante a pausa, os participantes meditaram usando um aplicativo.  A partir da avaliação da atividade cerebral dos voluntários, a primeira  conclusão do estudo é que as pausas podem reiniciar o cérebro, evitando,  assim, o acúmulo de estresse gerado pelo longo período conectado às  plataformas virtuais.  Isso é visível pelo nível de ondas do tipo beta, que são geradas pelo  estresse. Com a pausa, fica visível uma queda na atividade das ondas  beta, o que permite iniciar a próxima reunião em um estado mais  relaxado.  Além de gerar estresse, o acúmulo de reuniões pode afetar diretamente a  qualidade do trabalho. Isso pode ser medido pela atividade assimétrica  no córtex frontal do cérebro, que está ligada à nossa capacidade de  focar e participar de forma ativa de uma reunião.  Sem pausas, os voluntários da pesquisa se mostraram menos participativos  nos encontros. Além disso, a migração de uma reunião diretamente para  outra se mostrou uma fonte a mais de estresse nos participantes.

Por fim, os pesquisadores apontam um fator menos óbvio. As  videoconferências exigem mais esforço cognitivo ao não permitir que  ocorra uma comunicação não-verbal paralela, algo extremamente natural em  encontros presenciais. A modalidade virtual exige que os participantes  se esforcem para enviar e interpretar sinais de seu interlocutor.

As pausas entre reuniões se mostraram essenciais para a saúde mental dos  funcionários e para um bom desempenho no trabalho. Ambos estudos  encorajam que as pessoas avaliem as fontes de estresse no trabalho  remoto e busquem realizar mudanças, além de incluir na rotina atividades  que ajudam no relaxamento entre reuniões. Meditar, caminhar, desenhar e  ler são algumas das sugestões apontadas.

Resta saber agora o que acontecerá com as relações de trabalho quando a pandemia chegar ao fim.