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O jumento, um dos grandes símbolos do Nordeste brasileiro, corre o risco  de desaparecer. O animal virou alvo da cobiça econômica do mercado  chinês.  A espécie, originária da Ásia, foi Introduzida no Brasil pelos  colonizadores portugueses. Durante séculos foi muito usada na  agricultura e no transporte de carga. Com a modernização dos  equipamentos agrícolas e a ampliação do uso de veículos motorizados, o  jumento foi sendo substituído no dia a dia e deixou de ser útil para os  nordestinos, já que sua carne não é consumida.  Com o tempo foi ficando cada vez mais comum ver animais abandonados,  perambulando por campos e estradas, em busca de alimento. Muitos acabam  morrendo de fome e de sede.  Até que foi descoberto um novo nicho para esses animais. Desde 2016, o  Brasil se tornou um exportador de couro de jumento para a China. Há um  grande interesse no país asiático pelo couro do animal. Com ele é feito o  “Ejiao”, uma gelatina usada na indústria farmacêutica e de cosméticos.  Na medicina tradicional chinesa, o “Ejiao” é considerado um remédio para  diversos problemas de saúde: menstruação irregular, anemia, insônia e  impotência sexual.  Cada jumento é vendido a preços que variam de 30 a 150 reais, o que tem  causado o abate acelerado do animal. Os compradores são chineses que  arrendam fazendas, principalmente na Bahia e no Ceará.  Em 2019, o Brasil exportou 200 mil animais, um número alto, mas longe de  atender a demanda chinesa, de um milhão de animais ao ano. Com o  crescimento da demanda, os jumentos livres começaram a ser caçados nas  estradas, enquanto pequenos agricultores passaram a vender seus animais  para as fazendas controladas pelos chineses.   Porém, os criadores asiáticos não costumam tratar bem dos seus animais e  muitos jumentos morrem de fome e sede. Em setembro de 2018, duzentos  jumentos foram encontrados mortos em uma fazenda em Itapetinga, sudoeste  da Bahia. Os animais pertenciam a uma empresa chinesa e eram abatidos  por um frigorífico da região.   Em dezembro do mesmo ano uma liminar da Justiça Federal proibiu o abate  de jumentos no estado da Bahia. Em setembro de 2019 a liminar foi  suspensa pelo Tribunal Regional Federal. Finalmente, em abril de 2020, a  Agência de Defesa Agropecuária da Bahia regulamentou o abate dessa  espécie de animal. A nova regulamentação proíbe o abate de animais com  menos de cem quilos, de fêmeas no último terço da gestação e estabelece o  limite de abate de até 40% das fêmeas por lote.   No entano, as medidas ainda não são suficientes para impedir uma  possível extinção da espécie, de acordo com entidades de proteção dos  animais. A Frente de Defesa dos Jumentos estima que até 2024 o animal  estará extinto no Brasil, seja pelo abate em massa ou por maus tratos.   Além da luta contra o abate, a Frente também atua na criação de  santuários para ajudar na preservação da espécie. Um deles é o Parque  Padre Antônio Vieira, na cidade de Santa Quitéria, no Ceará, que abriga  mais de três mil jumentos.  Mesmo com a ameaça de extinção, dificilmente o abate será interrompido.  Muitas pessoas dependem desse comércio para sobreviver. As organizações  da sociedade civil seguem na luta pela preservação dos animais.  O jumento, símbolo de uma cultura tipicamente nordestina, pode se  transformar em pouco tempo em apenas mais uma lembrança.