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O presidente Jair Bolsonaro não representa o pior destino para o país, por mais incrível que isso possa parecer. O ditador Jair Bolsonaro será ainda pior. O grave, no entanto, é que o segundo habita o esgoto da alma do primeiro. E anda, despudoradamente, colocando as manguinhas de fora.

Nos últimos dias, os sinais dessa evidência vêm se sobrepondo. Há um projeto que fica cada vez mais claro. Começa com o incentivo ao armamento da população, com facilitação de registros e aquisição de artefatos e munições, sempre utilizando a incabível ideia de liberdade como caução para justificar a posse e o porte de armas. Povo livre é povo armado, vomita a novilíngua do poder.

A escalada segue com propostas de criação de uma linha de comando das polícias estaduais que chegue ao topo no governo federal, politizando as forças de segurança e enfraquecendo os laços com a sociedade e com a segurança pública. A violência deixa de ser um desvio do uso da força para ser a estratégia de expressão do poder político. Pragmaticamente, Bolsonaro retoma seu sonho de implantar o excludente de ilicitude. Polícia e milícia se distinguem por uma sílaba – e essa é sua maior distância.

Há, no entanto, uma mudança de atitude que faz com que esse propósito de estado policial-militar ganhe hoje forma tão explícita. Até alguns meses passados, havia uma crença ilusória na transposição automática do lawfare curitibano no âmbito do Estado brasileiro. O ministro da Justiça trazia para o governo um misto de prestígio que a extrema direita sempre desejou com expertise para torcer por dentro da máquina judiciária.

O ex-juiz e atual lobista e parecerista de criminosos internacionais carreava um séquito de admiradores, puxados pela campanha conduzida pela imprensa e carimbada pela corporação de procuradores e juízes. Quando Moro se tornou imprestável ao governo, sobretudo pela sombra emanada por sua vaidade e ambição, foi dada a senha para ir direto à fonte da exceção e descartar o marreco.

O novo ministro da Justiça que assumiu em seu lugar contribui para levar adiante a preparação do terreno golpista, com sua atuação de advogado de defesa de crimes que tangenciam o governo, seus mandatários e familiares, numa ação menor e paroquial. O que um dia foi chamado de porta de cadeia hoje responde pelo apodo de causídico de porta do Planalto. As cortes, para completar, trocaram a defesa anônima da lei pela ânsia de protagonismo.

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