Listen

Description

O carcará e o fim do mundo – Lupão e Saulo Avelino

Eu vi caldeiras em chamas flamejantes

Derretendo sentimentos descartáveis

Metralhadoras nas mãos de miseráveis

Eu vi milhões de navalhas sobre o chão

Um rio de sangue expelido de um vulcão

Capitalistas no sangue se afogando

Então eu vi o carcará passar voando

Sereno e frio sobre todos a planar

Vi cachoeiras vomitando óleo diesel

Eu vi o homem impermeável se afogar

Uma panela de dinheiro a cozinhar

Rodeada de crianças desnutridas

Eu vi a mãe pelos filhos extorquidas

Eu vi o mar fervente borbulhando

Então eu vi o carcará passar voando

Sereno e frio sobre todos a planar

Voa, Voa, Voa, Voa, Voa,

Voa carcará (2x)

Eu vi a última flor ser mastigada

Por um corpo que andava em duas patas

Enquanto bebia uísque e dava cartas

Tal qual o “i” na obra do inglês

Vi mil coriscos rasgando o céu de uma vez

Eu ouvi as engrenagens estalando

Então eu vi o carcará passar voando

Sereno e frio sobre todos a planar

Eu vi um Deus gritar em cada esquina

Eu vi a culpa perder o seu valor

Então senti que passava o meu temor

Senti que não haveria diferença

E era apenas mais uma transcendência

Eu ouvi a natureza se acalmando

Então eu vi o carcará devorando

O último homem ainda a agonizar

Voa, Voa, Voa, Voa, Voa,

Voa carcará (2x)

*********

“Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.” (Provérbio Indígena)