"Várias vezes, no decurso da minha vida opressa por circunstâncias, me tem sucedido, quando quero libertar-me de qualquer grupo delas, ver-me subitamente cercado por outras da mesma ordem, como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas. Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que me quase estrangulo"
Bernardo soares Aforismo 20, o livro do desassossego
---------------
Ele faz narrativas como se fossem pesadelos acordado, lançando mão do imaginário, descreve cenas fantásticas, solta a palavra como um experimento linguístico abrindo todo o poder do imaginário ára inventar narrativas, é desse mesmo poder que se vale um empreendedor quando vai iniciar algum negócio na vida real tomando as devidas precauções para conferir com o real, talvez Bernardo Soares devesse ser lido como uma mente criativa assim, que constroi narrativas como se fossem planos mirabolantes, que é o mesmo material com que um engenheiro trabalha para fazer cálculos estruturais.
