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A viúva estava na cozinha com o filho, contando feliz o dinheiro que tinha encontrado debaixo do colchão, quando o marido, falecido fazia meses, apareceu e veio sentar-se à mesa com eles.

A mulher não se intimidou:

--- O que você está fazendo aqui, seu miserável?! Me dá paz! Você está morto! Trate de voltar para debaixo da terra.

--- Nem pensar – disse o morto. – Estou me sentindo vivinho.

A mulher mandou o filho buscar um espelho. Entregou ao morto para que ele visse a sua cara de cadáver.

--- É ... estou abatido. Deve ser falta de exercício – disse o falecido.

E mandou o filho buscar a sanfona, e convidou a mulher para dançar. Ela é claro, não quis saber de dançar com o defunto, que cheirava pior que gambá.

O morto nem ligou. Começou dançar sozinho. De repente a mulher viu que um dedo dele estava caindo, e ordenou:

--- Toca mais rápido, menino!

Assim que o ritmo se acelerou, caiu outro pedaço.

--- Mais que depressa, que eu também vou dançar – ela resolveu.

E começou a requebrar e saltar e jogou a perna para o alto e balançar a saia.

O marido, animado, tratava de acompanhar as piruetas da mulher, e enquanto isso o corpo dele desmoronava. Até que só ficou a caveira pulando no chão, batendo o queixo.

A mulher caprichou uma pirueta, a caveira imitou e o queixo desmontou. Pronto.

Mais que depressa, a mulher mandou o filho buscar um baú para guardar os pedaços do marido:

--- Põe tudo que é dele, filho. Tudo. Que eu vou procurar uns pregos e um martelo.

Dali a pouco ela voltou e caprichou nas marteladas, para que o morto nunca mais escapulisse.

Enterraram o defunto de novo. Depois jogaram bastante cimento em cima.

Só no dia seguinte a viúva lembrou do dinheiro do marido, que ela tinha deixado em cima da mesa.

--- Cadê!?!

--- Uai, Mãe! Não era para guardar no baú tudo que fosse dele?

Ângela Lago.