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הָאֱלֹהִים אֶל-בְּנוֹת הָאָדָם, וְיָלְדוּ לָהֶם:  הֵמָּה
הַגִּבֹּרִים אֲשֶׁר מֵעוֹלָם, אַנְשֵׁי הַשֵּׁם.  {פ}

(Bíblia Hebraica – Texto Massorético)

 

“Os Nephilim estavam sobre a terra e aconteceu que os
filhos de Deus [Elohim] deitaram-se com as filhas do homem e geraram filhos:
eles são os herois, homens de renome.”

tradução de Gênesis 6:4 de Robert Alter. (versão em português, tradução livre)

 

Estamos no episódio 4 de nossa série Monstros Bíblicos. No episódio de hoje falaremos sobre os Nephilim.  No mundo antigo em diversas culturas havia
uma história sobre um dilúvio que inundou o mundo conhecido. A criação de
histórias e mitos, na maioria das vezes serve como um recurso linguístico para explicar
uma narrativa, e lidar com o imaginário de povos e culturas distintas.

A construção de histórias precisa de sustentação narrativa e também de justificavas para entrar no mundo
da oralidade, onde verossimilidade poderia ser apenas um simples detalhe. No
mundo do folclore/mitologia dos antigos hebreus também era assim. A história do
dilúvio precisa encontrar um mote que fizesse sentido à audiência hebreia,
permeada naquele momento pela idealização moral de uma desordem cósmica que
apenas Javé, e Javé somente, era capaz de reordenar.

Não entraremos nos motivos teológicos do dilúvio (campo dogmático), mas apenas no recurso narrativo,
folclórico onde uma das justificativas para tal evento cataclísmico seria a
união sexual entre um grupo de seres celestes e mulheres. Os B’nei Elohim, traduzido
como “anjos” em algumas versões, são seres que podem habitar o mundo dos
deuses, não necessariamente anjos, no sentido em que entendemos hoje em dia.

A história dos Nephilim é contada
e recontada com mais propriedade na literatura apócrifa do período que
conhecemos como judaísmo do segundo templo. Essa religião do segundo templo
absorveu com mais ênfase aspectos do pensamento persa, egípcio e o próprio
folclore hebreu/cananeu antigo é retomado e revisto. A relação causa e efeito
agora torna-se uma constante na explicação de fenômenos históricos, onde o
metafisico entra no mundo físico. Numa área conhecida, como historiosofia,
aquilo que está por trás das histórias contadas.

Os livros de Enoque (1Enoque)  e o Livro do Jubileu são
literaturas que mencionam a possível origem dos Nephilim. Na literatura
enoquita está escrito que 200 seres celestes, chamados de sentinelas coabitaram
com mulheres e geraram os Nephilim. Esses seres, sentinelas, também ensinaram
às mulheres a mística, encantamentos e como usar plantas e raízes para a cura,
além da arte das pinturas, adereços e cosmética. O livro canônico de Daniel também
apresenta a palavra sentinela para referir-se a uma classificação de ser
angelical. O livro de Enoque relata ainda que os sentinelas foram punidos,
aprisionados em correntes num abismo e no Dia do Messias, serão julgados e
condenados.

No Livro dos jubileus é relatada a suposta origem, caráter e julgamento dos nephilim. No dia do juízo final.
 O desenvolvimento da história narrada no livro diz que os espíritos deles transformaram-se em demônios. O Livro do
jubileu também confirma a tese que a presença da maldade dos nephilim causou um
desiquilíbrio cósmico na criação e Javé não teve uma alternativa a não ser o
dilúvio que destruiria o avanço dessas criaturas. A presença dos Nephilim no
mundo traria a maldade e segredos que os humanos não poderiam saber.

Na narrativa bíblica parece existir descendentes dos nefilim ainda em terras cananeias a serem conquistadas,
na contação de história do êxodo e os habitantes de Canaã e até no mítico embate
do jovem Davi e o famoso gigante Golias. Seriam os nefilim, gigantes ou apenas
homens sanguinários? De todos os modos, estamos vendo nessa série que alguns
dos monstros relatados nas histórias do imaginário hebreu são mais humanos que bestiais.