O mundo ao qual pertencemos parece não estar concebido para as pessoas frágeis, valoradas de sentimento e de valores; parece somente estar feito para os fortes, mentirosos, hipócritas e charlatães; esses que se esquecem e ignoram totalmente sua humanidade e se colocam uma armadura de ferro, ocultando assim sua fragilidade; intentam sempre ser menos humanos, e o logram. São tempos difíceis.
Por vezes, irrompe o monstro que carregamos nas entranhas. Passamos tanto tempo fingindo ao mundo alguém que não somos, que, ao final, terminamos desatando nosso ‘eu interior’, esse que costumamos esconder a destempo. É necessário outorgar essa liberdade ao que somos, domesticar a desumanidade e nos sentir mais humanos e menos irreais. Desde a infância tenho sido fiel aos monstros, sempre me salvaram. Porque são eles, creio, os santos patronos da nossa álacre imperfeição. Permitem e encarnam a possibilidade de falhar e viver. Nada nos converte mais solitários como os nossos segredos.
Prefácio musical “Beginning to End” [Chris Henderson and Landon Hook]; Cello por Aimee Norris.
Trilha sonora Understood [Mike Lazarev], (Unhinged, 2016).