Faz-se uma estação de aventadas certezas, erguem morada na indecisa consciência, do antigo medo e sua alegria, uma luz adormecida que vagarosamente desperta e assusta, sobressaltada. Somos os pósteros grises de fontes de antanho, o pé que inaugura um abismo feito de dúvidas e luzes, de verdades confusas e vislumbres de um mundo por nomear. A boca do lobo sempre me pareceu um rincão apetecível para me aconchegar e dormir. A beleza é imprescindível para que a vida nos seja suportável.
Nossa dor é a porta de nossa alegria. Tudo aquilo que amamos e perdemos — com ardor —, sem saber que em algum indeterminado dia nos será furtado, tudo aquilo que, atrás da sua perda não pôde nos destruir, que investiu atroz com forças sobrenaturais e buscou nossa ruina com crueldade e empenho, acaba — cedo ou tarde — demudando em alegria.
Se nenhum dos entardeceres é meu, e sou tempo prestado para a sombra das árvores, como chego à minha casa, cansado de correr atrás das portas, perseguindo os sonidos que acaricia a chuva? Com minhas próprias letras arranquei das pedras um pouco de fogo para as velas desta noite apagada.
Vivemos como sonhamos; sós.
Prefácio (fragmento cenográfico)
La vita è bella [Roberto Benigni, Vincenzo Cerami, 1998.]
Trilha sonora
Compassion [Shoshana Michel]
Thanatos [bzur]
In Metaphor, Solace [Luke Howard]