Que não cresça jamais em minhas entranhas essa calma aparente chamada ceticismo. Que eu fuja do ressabio, do cinismo, da imparcialidade dos ombros encolhidos. Que eu creia sempre na vida, nas suas infindas possibilidades. Que me engane o canto das sereias; que tenha minha alma sempre uma pitada de ingênua. Que nunca se pareça minha epiderme à pele de um paquiderme imovelmente gelado. Que eu chore, todavia, por sonhos impossíveis e amores proibidos, por fantasias despedaçadas de criança. Que eu fuja do realismo espartilhado. Conserve em meus lábios as canções, muitas e ruidosas e com muitos acordes, se vierem tempos de silêncio. Nos domingos, reviso minhas cicatrizes. Esse troço de pele geralmente cosida, estritamente desgarrada no passado e recomposta com ajuda de outra pele, nunca a mesma. Um enjambre, um remendo natural a uma ferida complicada, consequência de um golpe demasiado duro para ser recomposto de modo habitual. A pele perdoa, mas não olvida. Porque podemos nos distanciar de tudo, menos do que levamos dentro; e eu, tenho medo.
Prefácio musical
Bosco Verde [Melissa Parmenter]
Prefácio poético
“Cerimônia” (Bocas do Tempo) [Eduardo Galeano]. Ricardo Darín [Voz]
Trilha sonora
Mezzogiorno [Melissa Parmenter]
Martina Franca [Melissa Parmenter]
Ostuni [Melissa Parmenter]
Cisternino [Melissa Parmenter]
Imagem de capa do EP
@suebryanart