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“Quando conhecer alguém, olhe-o nos olhos e seja gentil, pois sempre há uma batalha dentro dele”.

Há sempre uma batalha dentro de nós. Uma batalha que pode ser dolorosa. E é disso que se trata a escrita. Ser capaz de expressar a dor. Mesmo que exista vergonha. É por isso que escrever de verdade se torna arriscado. Arriscamos não sair ilesos dessa experiência. Escrever requer coragem. É um vislumbre do abismo. O abismo dentro de nós. A literatura apela aos nossos medos, às nossas misérias, à nossa dolência. A poesia tem planos para a nossa dor.

Se pagam caros os intentos de destrui-la, porque também está o amor ali. Quando nos dirigimos ao amor, todos vamos ardendo, a golpes. Levamos papoulas nos lábios e uma chispa de fogo na mirada. Sentimos que o sangue nos golpeia as têmporas, os pulsos. Damos e recebemos rosas vermelhas e vermelho é o reflexo da alcova em penumbra. Quando regressamos do amor — variadas vezes, do seu intento —, machucados, ignorados, desvalorados, ou simplesmente absortos, retornamos muito pálidos, muito frios. Somos um esqueleto e sua derrota.

Sinto a taipa dos olhos, vencida; crescendo a solidão dos desencontros. Fazer de um lamento, de um grito, algo belo, é uma maneira de reivindicar a pulsação de vida. Também. Apesar de tudo.

Às vezes, as palavras são como feridas de bala sem orifício de saída.

A literatura que salva é a que ganha dinheiro; mas só a literatura que mata é a que ganha prêmios.

Música: Sem Palavras (Mário Barros) violão 7 cordas Yamandu Costa.