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O presente trabalho pretende investigar e apresentar a obra de Jean-Paul Sartre, mais exatamente a noção de “má-fé", assimilando-a como uma crítica frontal à psicanálise freudiana. Assim, ao contextualizar a recepção sartriana da psicanálise, o intuito é o de demonstrar que a teoria da má-fé, exposta por Sartre na primeira parte de O Ser e o Nada, pode ser explorada como uma rejeição radical da ideia de inconsciente, na medida em que ocupa seu lugar. Ao pensar a consciência como "puro ato", desde seus trabalhos em psicologia fenomenológica, Sartre já indicava que sua leitura da hipótese freudiana do inconsciente não seria animadora para a psicanálise, pois o inconsciente compromete a espontaneidade da consciência, concepção à qual Sartre se vinculara desde seus trabalhos de juventude, como A Transcendência do Ego. Além disso, sua concepção radical da liberdade também encontra na psicanálise um adversário explícito, uma vez que o sujeito freudiano é determinado por pulsões e complexos sobre os quais não tem domínio. Enfim, é contra uma concepção passiva da subjetividade, flagrantemente presente na obra de Freud, na psicologia empírica de modo geral e em algumas filosofias, que Sartre apresenta sua tese da consciência como "espontaneidade impessoal" e "translucidez". Essa nova concepção do sujeito, tecida em A Transcendência do Ego e O Ser e o Nada, bem como a oposição à teoria freudiana, irão desembocar na "Psicanálise Existencial", esboçada por Sartre na última parte da obra.
Palavras-chave: Má-fé; Inconsciente; Sartre; Freud; Psicanálise-existencial.