Essa semana um número chocante estampou as manchetes dos principais jornais do país: nos últimos três meses de 2020, 55% dos brasileiros enfrentaram algum grau de insegurança alimentar. Pior, quase 9% da população passou fome nesse período.
Os dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Eles apontam uma aterradora constatação, o Brasil está de volta ao Mapa da Fome da ONU depois de um curto período de sete anos fora do rol de países nos quais mais de 5% de seus habitantes ingerindo menos calorias do que o recomendável.
O levantamento também reafirmou os contornos da desigualdade social no Brasil.
Lares chefiados por mulheres são vítimas mais frequentes da fome: 11%. Contra 7,7% em casas que têm o homem como principal provedor.
A diferença também está presente quando o critério é a cor da pele. 10,7% dos domicílios de pessoas pretas ou pardas enfrentavam insegurança alimentar grave. Entre os brancos o número caia para 7,5%.
Outro fator é a localização da moradia. Nos estados do Norte, em 18% havia fome; no Nordeste, quase 14%, enquanto a média nacional ficou em 9%.
Residências no campo foram atingidas pela falta de alimentos em 12%, enquanto nas cidades o número foi pouco superior a 8%.
O levantamento aponta ainda para uma aceleração na velocidade com que a fome vem crescendo no Brasil. A taxa foi de quase 28% entre 2018 e 2020, contra cerca de 8% de 2013 a 2018. E o número se torna ainda mais alarmante, ou mais compreensível, quando posto ao lado de outro dado divulgado durante a semana: o total de bilionários no país saltou de 45 para 65, entre 2019 e 2020.
E sobre isso conversamos com a coordenadora da assessoria política do Instituto de Estudos Socioeconômicos, Nathalie Beghin.