Na liturgia que a Igreja celebra todos os anos começa no que é chamado o Tempo Comum. A maioria do ano, cerca de 34 semanas, são passadas vivendo este Tempo Comum que deve ser vivido de “um modo não comum”, para aprender a celebrar o quotidiano, a não cair na rotina, a abrir a alma e o coração à contínua ação de Deus. No Tempo Comum podemos e devemos contemplar Jesus na sua vida de Nazaré, trinta anos de vida numa aldeia, no trabalho de carpinteiro, na vida da família, dos amigos, vivendo os acontecimentos, as conversas, a oração, contemplando a natureza: aves do céu, lírios do campo, figueiras com figos, pôr do sol vermelho e bonito, pois tudo lhe falava do Pai e do seu amor. O quotidiano não pode ser vivido numa rotina sem sentido, cansativa, numa movimentação desenfreada, sem encanto, mas com Jesus e como Ele, com entusiasmo, com amor no coração, com paixão. “Faça bem o que você faz”, era o ensinamento do adágio latino que percorreu séculos e ajudou muitos a procurar a perfeição em todas as coisas. Ou como disse um autor espiritual, hoje canonizado: Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes. (São Josemaria Escrivá). O Tempo Comum pode ser bem aproveitado para este contínuo exercício espiritual de fazer bem, com perfeição, todas as coisas, e estar totalmente presente, de corpo, alma, coração, no que estamos fazendo no quotidiano e assim divinizar os nossos minutos, horas e dias. Trata-se de uma ginástica espiritual sempre proveitosa e com muitos frutos, no caminho da santidade, divinizando e dando solenidade a cada momento. [...] Qualquer que seja a nossa idade, a nossa profissão, a nossa cultura, o trabalho que estamos fazendo, a dor que sofremos, a alegria que partilhamos, o momento de lazer, viver com amor e solenidade o momento presente coloca a nossa vida em Deus e mergulhamos no seu amor. Este exercício espiritual, este caminho, esta opção de vida e de fé nos fará ser, como São Paulo nos exorta, “hóstias vivas, oferenda permanente”. E esta atitude e opção nos mergulha em Eucaristia, como a gota de água no vinho, que se tornará sangue redentor. E a gota de água é a nossa humanidade, o nosso quotidiano, o nosso contínuo presente vivido, rezado, trabalhado, sofrido, chorado, vivido em alegria, em trabalho ou descanso. A vida toda, cada dia, cada hora, se torna “eucaristia vivida” com Cristo, celebrando vinte e quatro horas de Missa, sendo oferta com Ele, para que o mundo tenha vida e vida em abundância. E o mundo à nossa volta vai-se divinizando, transformando, com a nossa oferta, pois somos fermento na massa, queremos ser redentores com Cristo Redentor. Concluímos com uma frase de Emmanuel Mounier: Se a vocação suprema da pessoa é divinizar-se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente personalizando o mundo, seu Pão cotidiano não é mais penar ou se divertir, ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si.
Fontes (textos/créditos):
https://redemundialdeoracaodopapa.pt/blog/352 - Autor: Pe. Dário Pedroso, SJ.
https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/209-a-autoridade-do-grande-mestre
https://www.pensador.com/autor/emmanuel_mounier/
https://pt.wikihow.com/Parar-de-Remoer-o-Passado
Imagem (créditos): https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2685-muitas-pedras-vida-asfixiada
Trilha sonora (créditos): https://www.youtube.com/watch?v=F1oHFKNxfWk. Neverland - Black Dawn - Tema. Neverland · Black Dawn - Sound of an Angel.