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Description

O silêncio é habitualmente compreendido como algo negativo, algo vazio, uma ausência de sons, de ruídos. Este mal-entendido prevalece, porque muito poucas pessoas já alguma vez experimentaram o silêncio. Tudo o que experimentaram com a designação de silêncio foi a ausência de ruído. Mas o silêncio é um fenómeno totalmente diferente. É indubitavelmente positivo. É existencial, não é vazio. É transbordante de uma música nunca antes ouvida, de uma fragrância que nos é estranha, de uma luz que apenas pode ser vista com o olhar interior. [...] “É uma parábola que vem nos livros antigos. Nesses tempos esquecidos os monges tinham por hábito construir os seus conventos nos ermos afastados do barulho do mundo. Sobretudo nas montanhas, onde só a natureza e os horizontes lavados lhes faziam companhia. Não era só para fugir ao mundo, à confusão a cidade. É certo que a teologia da fuga do mundo era cartilha corrente nessa época. Mas os antigos não se refugiavam nos ermos só para fugir ao mundo. Mais do que o que deixavam, motivava-os o que iam encontrar. No silêncio e na solidão, a presença de Deus era mais transparente. Os monges sentiam-no por ali e com Ele conviviam. Era essa a presença que tanto os fazia cantar a todas as horas como viver em silêncio o dia todo. Era um silêncio que falava mais do que todas as palavras.

Ora aconteceu que um belo dia, um peregrino cansado dos negócios e da confusão da cidade, tomou o seu alforge e o seu bordão e lá vai ele bater às portas de um desses oásis na montanha. Queria fazer a experiência do silêncio e da solidão. O primeiro monge que encontrou estava junto de um poço a tirar égua para o convento. Não procurou segundo, e logo ali o peregrino perguntou ao monge que é que se aprendia com a solidão e o silêncio. O monge lançou o balde ao poço e respondeu ao peregrino: – olha para o fundo do poço. O que é que vês lá dentro? O homem debruçou-se sobre o poço, olhou para dentro e respondeu: – Não vejo nada, só água a mexer-se! O monge mandou-o esperar mais algum tempo, esperou que a água acalmasse e depois disse ao peregrino: – olha agora. O que é que vês no fundo do poço? – Ah, respondeu o peregrino, agora vejo-me a mim próprio reflectido na água. O monge concluiu: Pois é! Quando se mergulha o balde a água fica agitada e nada se vê. Mas quando a água está tranquila, tu vês-te a ti mesmo.

Fonte (créditos):

https://espiritanos.pt/em-busca-do-silencio-perdido/

Trilha sonora (créditos):

https://www.youtube.com/watch?v=KKWRYQLlrS0 - Il Silenzio - (Silêncio) "instrumental" (baú de recordações) - A. soares

Imagem (créditos):

AdobeStock_316892055