“Ser feliz”: não há outra meta mais importante na vida de todos nós. De fato, é tão importante que se converteu em um desejo que repetimos de maneira muito frequente e, de forma especial, para as pessoas que mais amamos. Proferimos os votos de felicidade em qualquer evento, em todos os aniversários, no início de cada ano... Não podemos desprezar o excesso de nossas felicitações, por mais rotineiras que nos pareçam. Elas expressam um desejo profundo, talvez o desejo mais íntimo de nós mesmos. “Que sejas feliz!” Que melhor sentimento que isso podemos desejar a alguém, seja ele(ou ela) quem for Será que a proposta dos santos evangelhos de felicidade tem algo a nos dizer em nosso momento atual? As bem-aventuranças se contrapõem aos mandamentos que proíbem certas coisas por um anúncio que atrai para a felicidade. E a promessa de felicidade não é para depois da morte. Jesus fala da felicidade nesta vida. Antes de proclamá-las, Jesus vive intensamente as bem-aventuranças; elas são a expressão daquilo que é mais humano no seu interior; elas são seu autorretrato. Jesus é o bem-aventurado. Ele personaliza tais atitudes: é o pobre, aquele que se comoveu diante da dor e misérias humanas, que expressa uma fome e sede de plenitude e de humanização, que é incompreendido e perseguido por causa dos seus sonhos. As bem-aventuranças nos revelam que somos habitados por um impulso que nos torna “buscadores de felicidade”. A sociedade de consumo que invadiu tudo, realça a felicidade como a meta imediata de nossas buscas, algo ao qual temos direito e que depende de fatores externos. Esta felicidade é passageira, pois quando a alcançamos, invade de novo a insatisfação, a inquietude, o ressentimento, a inveja... e de novo empreendemos nossa busca. Assim, pois, a felicidade nos escapa quando a buscamos “fora” de nós mesmos, como fim em si mesma, para saciar nosso ego insaciável.
A felicidade nasce dentro de nós: daquilo que sentimos, que valorizamos, que vivemos... Por isso, as bem-aventuranças não são algo externo, mas atitudes que plenificam nossos corações. A chave da felicidade está em permitir que se revele o sentido da luminosidade que se encontra no fundo de nosso ser. O que nos tira a energia e nos torna impotentes é afastar-nos desse princípio vital que é o Divino em cada ser. Ser o que somos, em serenidade e profundo sentido. A felicidade, tal como a verdade e a beleza, ao se revelar a nós, desata a potencialidade daquilo que somos e de tudo o que é. Nesse sentido, felicidade pode ser entendida como um “estado de espírito”; felicidade é viver sem chegada, e sem partida; é experimentar uma sensação de renascimento de satisfação interior... ou sentir despertar em si um potencial de bondade, de compaixão, de solidariedade...muitas vezes desconhecida. A verdadeira felicidade coincide com a paz interior; é o prazer de descobrir, cada dia, que a vida se inicia novamente em cada amanhecer; é fazer da mesma vida uma grande aventura... Por isso, a felicidade está relacionada com a gratuidade e com a gratidão.
CRÉDITOS:
FONTE:
Autor do texto: Pe. Adroaldo Palaoro - SJ
https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/1588-a-felicidade-escondida-nas-bem-aventurancas
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TRILHA SONORA: acervo pessoal.