Há pessoas cuja autoridade não vem da força, mas de algo mais profundo. Motolinía era assim. Um franciscano magro, pobre, quase irrelevante aos olhos do mundo. Caminhava pelas estradas poeirentas do México como quem não tem nada. E, no entanto, quando os conquistadores espanhóis o avistavam, desmontavam dos cavalos, tiravam os capacetes e ajoelhavam-se diante dele em silêncio. Os indígenas olhavam aquilo perplexos, sem entender como homens armados se curvavam diante de um “pobrezinho”.
A resposta não estava na aparência. Estava no Reino.
O Reino que Cristo trouxe não é feito de muralhas ou exércitos. Não se impõe pela força. É silencioso, discreto, mas absolutamente real. Surge onde um coração se abre para Deus e permite que Ele conduza. É um Reino que começa dentro de alguém e, a partir dali, transforma tudo ao redor.
Jesus afirmou: “Foi-me dada toda a autoridade no Céu e na terra.” Mas essa autoridade não oprime. Ela ilumina. Ordena. Restaura. E o mais surpreendente é que Ele não guarda essa autoridade apenas para Si. Ele a partilha com os que O seguem. Convida cada um de nós a participar desse reinado, governando com Ele não por domínio, mas por amor.
A Bíblia fala do “Filho do Homem vindo sobre as nuvens”, uma imagem antes reservada ao próprio Deus. Jesus assume esse título para revelar Seu mistério: um Rei que reina servindo, vence obedecendo, governa amando. E, de repente, percebemos que Ele quer que reinemos com Ele nesta lógica divina tão distante das vaidades humanas.
Reinar com Cristo não significa mandar. Significa elevar. Não significa dominar. Significa transformar. O “reinado” que Ele nos confia passa pelos pequenos territórios da vida: um laboratório, um escritório, uma sala de aula, uma mesa de jantar, uma conversa difícil, um momento de paciência. São reinos discretos, mas reais, onde Deus deseja entrar.
Maria reinava assim em Nazaré. Sem coroa ou aplausos. Com um amor silencioso que transformava cada gesto em território de Deus. Cristo nos oferece a mesma missão: permitir que Ele governe nossas intenções, nossos trabalhos, nossas escolhas e nossos relacionamentos. E quando isso acontece, até o mais simples dos gestos ganha peso de eternidade.Talvez seja por isso que João Paulo II clamava: “Não tenhais medo! Escancarai as portas a Cristo!” Porque, quando Cristo entra, qualquer espaço — por menor que pareça — torna-se Reino. E então algo novo começa a acontecer: as pessoas ao nosso redor sentem uma autoridade que não vem de nós, mas dEle. Uma autoridade que consola, não pesa. Que ilumina, não assusta. Que levanta, não oprime.
Foi assim com Motolinía. Assim com tantos santos. Assim com todos os que deixam Deus ocupar o centro da própria vida. E assim pode ser conosco.
O Reino começa quando você permite que Deus governe o chão em que você pisa._________________
📚 Referências utilizadas
Podcast Lord of Spirits com referências bíblicas e mitológicas sobre o reinado de Cristo e a nossa participação neste tomando o luaga dos anjos caídos: https://www.ancientfaith.com/podcasts...https://www.ancientfaith.com/podcasts...https://www.ancientfaith.com/podcasts...
Livro sobre transição histórica da religião centrada num Deus supremo para o politeísmo:
Andrew Lang, The Making of Religion.