Por Irmão Hélio Moreira
Alguns, até com certa afoiteza, costumam dizer que a maçonaria brasileira vive do passado, isto é, vangloria-se de episódios históricos, nos quais ela teve participação por intermédio de grandes vultos que pertenceram à nossa Ordem; não concordo com esta afirmação pois, nos dias atuais, como é a sua característica, ela participa dos acontecimentos, porém, não divulga, e, a repercussão destas ações só acontecerão no futuro.
Algumas vezes a nossa Instituição entrou como coadjuvante na evolução destes acontecimentos e, na maioria deles, como sujeito da ação.
No mais importante episódio da nossa história (Nossa Independência) a Maçonaria teve ação decisiva, participou, como sujeito da ação, desde os primórdios dos acontecimentos até a sua efetivação. Vou tentar descrever em ordem cronológica estes acontecimentos:
No final do ano de 1807, a França invadiu Portugal, obrigando a família Real a fugir para o Brasil, na época sua colônia, de onde, a partir de 1808, o aparelho do Estado português passou a governar; no entanto, a partir de 1814, com o fim das guerras peninsulares, os tribunais europeus passaram a exigir que o monarca voltasse para Portugal.
Em 1815, D. João VI, para justificar a sua permanência no Brasil, criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, como um Estado monárquico transatlântico e pluricontinental. No entanto, este gesto não conseguiu diminuir a demanda portuguesa para o retorno da família Real; em 1817 explode a revolução Pernambucana, considerada por muitos historiadores, como o primeiro grito pela nossa independência,
Esse episódio é muito pouco discutido nos compêndios da história do Brasil, inclusive em nosso meio maçônico, no entanto, este movimento foi a nossa primeira manifestação de brasilidade, inclusive clamando pela implantação de uma república no lugar da Monarquia; nossa Ordem teve grande participação nesses acontecimentos.
Havia naquela capitania (Pernambuco) um estado de insatisfação muito grande com respeito ao relacionamento entre os brasileiros e os detentores do poder (os portugueses); aos brasileiros era vetada a possibilidade de ocupar cargos públicos e, nas forças armadas, somente os postos subalternos eram reservados aos nativos. Estes episódios repercutiam no seio dos mais intelectualizados, embalados pelos ideais da revolução francesa, principalmente alguns brasileiros que estudaram na França e Inglaterra, onde iniciaram na maçonaria.
Dentre estes, destacam-se Domingos José Martins, iniciado na maçonaria em Londres e que havia frequentado a Loja Reunião Americana (Londres), fundada pelo General venezuelano José Miranda (O grande libertador da América), o frade e médico Manuel de Arruda Câmara, este iniciado em Montepellier (França) e o padre e maçom Azevedo Coutinho, sagrado bispo de Pernambuco em 1796 e fundador do seminário de Olinda.