por Eduardo Szklarz
Só tem “gente boa” no time que persegue os maçons desde a idade média: Papas Inquisidores, Adolf Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco e até Getúlio Vargas
Muita gente pensa na maçonaria como uma das sociedades secretas mais poderosas da história. Poucos sabem, contudo, que ela também tem sido uma das mais perseguidas. Não é para menos: na Idade Média, quando o mundo era controlado a ferro e fogo por reis absolutistas e papas inquisidores, os maçons apoiavam a liberdade, a ciência, o laicismo e a tolerância religiosa. Questionavam qualquer dogma. Pregavam que cada indivíduo tinha livre-arbítrio em suas escolhas. E ainda mantinham suas reuniões em absoluto segredo. Natural, portanto, que esses homens de avental representassem uma ameaça para ditadores, fanáticos e defensores do pensamento único.
“Os mais férreos perseguidores da maçonaria estavam — e ainda estão — na Igreja Católica”, diz o pesquisador argentino Guillaume Freinet, autor do livro Masones y Rosacruces (“Maçons e Rosa-Cruzes”, sem tradução no Brasil). Segundo Freinet, a relação com a Santa Sé até que começou bem: reunidos em sindicatos de pedreiros, os maçons eram contratados pelo alto clero para construir catedrais Europa afora. Mas, à medida que a fraternidade deixou os tijolos de lado e se assumiu como uma sociedade secreta filosófica — ou melhor, especulativa —, no século 17, os donos do poder se sentiram ameaçados.
Com a publicação da Constituição de Anderson (pilar da maçonaria moderna), em 1723, a Igreja rompeu definitivamente com os ex-protegidos. Em 1738, por exemplo, o papa Clemente XII emitiu uma bula proibindo os fiéis de integrar a ordem. E os tribunais da Inquisição ganharam carta branca para torturar “hereges”, acusados de satanismo.
Foi assim com o suíço John Coustos, preso em Lisboa por ordem do governo português e levado à câmara de tortura do Santo Ofício. Forçado a jurar sobre os Evangelhos, teve de se despir e foi atado no potro, uma espécie de cama que estirava pernas e braços da vítima até arrebentá-los. “Eu o informei de que, se morresse durante a operação, quebrasse algum membro ou perdesse os sentidos, a culpa seria dele, e não dos senhores ministros”, relata o inquisidor Felipe de Abranches nos autos do processo. O maçom foi libertado graças à intervenção do embaixador da Inglaterra. Exilado em Londres, rompeu o silêncio imposto pelos bispos e contou tudo no livro Os Sofrimentos de John Coustos (1745).