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Por Tiago Cordeiro
No dia 9 de janeiro de 1822, o presidente do Senado da Câmara, José Clemente Pereira, pronunciou um eloquente discurso. Pediu ao príncipe regente, dom Pedro de Alcântara, que ignorasse o chamado da metrópole, exigindo seu regresso a Lisboa, e ficasse no Brasil. Clemente era maçom. E agia de acordo com dois manifestos lançados em dezembro do ano anterior. Um deles tinha a assinatura de José Bonifácio. O outro, do frei Francisco de Jesus Sampaio. Bonifácio, um dos maiores expoentes da vida política da colônia, também pertencia à maçonaria. Assim como frei Francisco, orador da loja maçônica Comércio e Artes. Era na cela do religioso, no Convento de Santo Antônio, que se reuniam os líderes do movimento pela permanência de dom Pedro — e pela libertação do domínio português. Algumas horas mais tarde, o regente anunciou que desobedeceria a seu pai — o rei de Portugal, dom João VI — e permaneceria deste lado do Atlântico. Aquela data, 9 de janeiro, entraria para a história como o Dia do Fico. Oito meses depois, no dia 7 de setembro, dom Pedro declararia nossa independência.
Foi assim, com discursos públicos inflamados e movimentos de bastidores, que a maçonaria assumiu um papel fundamental na transformação da colônia em império. Quando voltou das margens do Ipiranga, em São Paulo, para o Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1822, Pedro foi recebido com festa e aclamado o primeiro imperador do Brasil. A celebração ocorreu na mesma loja Comércio e Artes. Àquela altura, os principais líderes da nova nação eram integrantes da maçonaria. O Grande Oriente do Brasil — entidade à qual até hoje está subordinada a maioria dos templos maçônicos brasileiros — havia sido fundado apenas quatro meses antes.

ORIGEM NEBULOSA
A primeira loja maçônica de que se tem notícia por aqui é a Reunião, fundada no Rio de Janeiro em 1801. Alguns pesquisadores maçons, no entanto, acreditam que a história da irmandade no Brasil talvez seja ainda mais antiga. O problema é que não existem registros da suposta atividade anterior a 1801, já que a ordem vivia na clandestinidade. Naqueles tempos, a maçonaria brasileira não só era secreta como precisava fugir da perseguição portuguesa. “Muitas das informações e dos segredos (...) eram transmitidos apenas oralmente, não existindo documentos para uma melhor fundamentação dos fatos”, escreve Celso Ávila Júnior no livro A Maçonaria Baiana e Sua História.
Ávila defende a tese de que a ordem, naquele momento, atuava nos porões de associações literárias. E acredita que uma loja maçônica chamada Cavaleiros da Luz já estava em atividade no ano de 1797. A existência desse templo, supostamente localizado na povoação da Barra, em Salvador, jamais foi comprovada. Mas existe um documento datado de 1798 que parece fazer referência a ela. Trata-se de uma carta de Rodrigo de Souza Coutinho, então ministro da Coroa portuguesa, enviada a Fernando José de Portugal e Castro, governador da Bahia: “Sua Majestade [a rainha de Portugal, dona Maria I] manda remeter (...) a inclusa denúncia de várias pessoas que parecem infectas de princípios jacobinos; e ordena (...) que Vossa Senhoria, tomando todo o conhecimento do fato, proceda contra elas com a maior severidade”. O denunciante, Manoel Antônio de Jesus, dizia que, ao pé do Forte de São Pedro, havia uma casa onde um grupo se reunia para falar de liberdade e promover banquetes — dois conhecidos hábitos maçônicos.
Pode ser, ainda segundo historiadores ligados à ordem, que a maçonaria brasileira também já estivesse relativamente organizada em outras localidades do Nordeste. “Existiam agrupamentos secretos, em moldes mais ou menos maçônicos, funcionando como clubes ou academias, mas que não eram lojas”, afirmam José Castellani e William Almeida de Carvalho em História do Grande Oriente do Brasil. “É o caso, por exemplo, do famoso Areópago de Itambé, fundado por Arruda Câmara, ex-frade carmelita, em 1796, na raia das províncias de Pernambuco e da Paraíba.
Seja como for, é cert