Texto Érika Alfaro -
A instituição de maior poder também é a parte mais misteriosa da Igreja Católica
Uma instituição, duas visões. De um lado, os ideais de “obra de Deus” e vida santa. Do outro, autoflagelação, rituais obscuros e a busca por poder e influência. Esse é o contexto que cerca o Opus Dei, instituição católica criada pelo sacerdote espanhol José Maria Escrivá Balaguer, em 1928, que até os dias atuais é alvo de polêmicas e críticas.
Segundo a história da Ordem, o religioso não planejou sua fundação, mas foi o que aconteceu quando fez um retiro em Madri, por inspiração de uma mensagem divina. O livro 12 perguntas sobre o Opus Dei, de autoria do próprio fundador, afirma que a instituição se propõe a promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo. Essa é a ideia principal desse braço da Igreja Católica: oferecer aos seguidores, que não precisam ser clérigos, uma vida próxima a Deus. Entretanto, muita coisa está por trás dessa missão sagrada.
Para conquistar o mundo
Os integrantes da Ordem são divididos em duas categorias. Os numerários são aqueles que se dedicam integralmente aos afazeres religiosos, sendo sustentados pela instituição e vivendo em um regime fechado e de castidade. Eles são, por exemplo, padres e monges – homens e mulheres são separados. Os supranumerários levam a vida normalmente: são livres, casados e têm suas profissões.
Acusada de ultraconservadora e de guardar segredos, os críticos da organização também afirmam que os “recrutados” são pessoas que possuem posições importantes. Com isso, o Opus Dei buscaria manter seu poder, sua influência e defender os interesses do Catolicismo mediante o Estado – diz-se que os membros têm papel importante em discussões de determinados temas, como a legalização do aborto e a questão das células tronco, por exemplo. Apesar dessas alegações conferirem um ar de mistério à instituição, a maior polêmica que a envolve é a prática chamada de mortificação da carne. O livro do escritor americano Dan Brown, O Código da Vinci, e sua adaptação cinematográfica trouxeram com ainda mais força essa discussão.
Rituais que envolvem golpear as próprias pernas, costas e nádegas com chi- cotes cheios de nós, chamados de “disciplina”, e o uso do cilício – uma corrente de metal com pontas que é amarrada em volta da coxa – são práticas regulares entre os membros.
Motivado pela repercussão da obra de Dan Brown, Michael Barrett, sacerdote do Opus Dei, teve uma entrevista divulgada no site oficial da Ordem. Na ocasião, Barrett afirmou que a penitência e a mortificação constituem uma parte pequena, mas essencial, da vida cristã: “A mortificação ajuda-nos a vencer a nossa tendência natural à comodidade pessoal, que tantas vezes nos impede de corresponder à chamada cristã de amar a Deus e servir o próximo por amor de Deus”. Sobre o cilício, ressaltou que o instrumento causa incômodo, porque, de acordo com ele, do contrário, não teria razão de ser, mas que de modo nenhum atrapalha as atividades normais de uma pessoa, e muito menos causa sangramentos.
Uma importância sem precedentes
O Opus Dei foi reconhecido como prelazia pessoal (uma estrutura institucional da Santa Sé) pelo papa João Paulo II – diz-se que o mesmo chegou a essa função por estar relacionado à Ordem. A posição de prelado confere funções particulares. Dentro da Igreja Católica, o grupo só responde ao próprio papa.
Para ilustrar a dimensão e a influência que o Opus Dei adquiriu, basta observar o processo de canonização de Escrivá, um dos mais rápidos da história. Além disso, a cerimônia da sua beatificação, ocorrida em 2002, na Praça de São Pedro, contou com 250 mil pessoas.