Por João Anatalino
Ao ler a história do sujeito que manteve sua filha prisioneira durante vários anos e abusou dela nesse tempo todo, tendo com ela vários filhos, e depois vendo que isso também acontece amiúde no Brasil, lembrei-me da história das Filhas de Lot, contada no episódio bíblico de Sodoma e Gomorra. E não sei porque, de Niezstche, com a sua maluca idéia do eterno retorno.
Lot era sobrinho de Abraão, o patriarca hebreu que fundou a nação dos israelitas. Essa história está na Bíblia e tudo que escrevemos aqui não é invenção da nossa cabeça.
A Bíblia não explica a verdadeira razão de Abraão ter deixado a Mesopotâmea, terra dos caldeus, para se mudar, com sua família e todos os seus agregados para a Palestina. Mas lendo Flávio Josefo, um historiador judeu dos tempos de Jesus Cristo, ficamos sabendo que Abraão, na verdade, era um sacerdote caldeu que um dia descobriu que havia uma força no universo que fazia com que tudo obedecesse a uma certa lei. E era por conta dessa força que o sol brilhava durante o dia e se escondia durante a noite. Por isso, igualmente, a lua substituía o sol, á noite, quando ele se ausentava, e dava força às marés. E também influenciava todos os fluxos líquidos da terra, inclusive aquele que acontece às mulheres pelo menos uma vez por mês.
Com isso ele começou a imaginar que se havia um processo que regulava os caminhos dos astros no céu, deveria haver também algo semelhante para regular a vida dos homens na terra, E por traz disso devia haver uma Vontade a presidir tudo, ou seja, um Deus que controlava esse processo, e por sua atuação, tudo acontecia ou deixava de acontecer na terra e no céu.
E daí a descobrir que Ele tinha um propósito para a raça humana, foi apenas mais um passo. Esse propósito era uma idéia de aperfeiçoamento contínuo das faculdades espirituais do homem, até que ele mesmo se igualasse aos seus próprios construtores, que eram os anjos(os chamados elohins). Essa é a tese defendida pelo Talmud e pelo Zohar, o místico livro da Cabala, que começou a ser escrita pelo próprio Abraão, quando ele teve essas iluminações. Mas para que isso acontecesse, pensou Abraão, era preciso que Deus separasse entre os povos existentes naquela época uma matriz que pudesse ser trabalhada segundo esse modelo.
Ora, a antiga religião dos caldeus pregava que o mundo era obra de uma infinidade de deuses. Havia o deus da chuva e o deus que promovia a seca; o deus que trazia a doença e o deus que fazia a cura; o deus que representava a luz e o deus que simbolizava as trevas; o deus do doce e o deus do azedo, o deus que dizia sim e o deus que dizia não.
Abraão, de posse desse novo conhecimento concluiu: tudo isso é uma grande besteira. Só há um único Deus. Ele é que fez tudo e controla tudo. Ele é o próprio universo, ou seja, um poema de verso único, embora tenha uma multiplicidade de faces e muitas interpretações.
Mas em Ur, onde ele vivia, e na Babilônia, Assur, Nínive e outras cidades da Mesopotâmia, havia um grande número de pessoas que viviam da prática da religião. Sempre foi assim. Dizem que a prostituição é a mais antiga profissão do mundo, mas não é verdade. O exercício do sacerdócio e a exploração da crendice popular são atividades bem mais antigas. O comércio da fé é um negócio que nasceu praticamente junto com a invenção da linguagem. E sempre se mostrou muito lucrativo. Até hoje é. Houve um tempo em todas as famílias importantes queriam ter uma padre, ou um sacerdote, fosse qual fosse a religião, no clã. Ser padre era mais importante do que ser médico, advogado, engenheiro, politico ou militar. Além das boas rendas que proporcionava a carreira, ainda tinha aquela prerrogativa de se ter um bom intermediário em casa para negociar os pecados da familia quando chegasse a hora de fazer a contabilidade com Deus. Mas então sucedeu que com essa idéia de que só havia um único Deus, Abraão prejudicou o ganha pão de muita gente na Mesopotâmea dos grandes magos, e por isso ele foi expulso daquela terra. A