Mulheres e solidão tem andado de mãos juntas. Elas vivem mais só que eles, luto, desemprego, falta de toque….
Ana Paula morava em São Sebastião do Paraíso, interior de Minas, sozinha com seu filho de 6 anos, que é autista.
Ana Paula teve um infarto e faleceu aos 39 anos. Só foi achada cerca de 12 dias depois, no seu quarto, por um irmão que deu falta. Seu filho estava na cozinha. Ele não fala, e não conseguiu pedir ajuda.
Eu sinto muito, Ana Paula.
Sinto pela sua solidão. Sinto pelo fato de só notarem a sua ausência 12 dias depois. Se minha irmã fica um dia sem aparecer, eu já fico preocupada…
Eu sinto muito pelo que o seu filho passou. Eu imagino que isso era um dos seus piores pesadelos, e ele aconteceu.
Aconteceu porque mães atípicas, muitas vezes, recebem um tapinha nas costas, são chamadas de guerreiras, e depois são abandonadas.
Aconteceu porque mães atípicas solo são tão sobrecarregadas que não conseguem cuidar da própria saúde.
Aconteceu porque tantas dificuldades e abandonos pesam…no corpo, na mente, no coração.
Aconteceu porque a sociedade e o Estado não acolhem, não cuidam de quem cuida, e nem veem o cuidado como um trabalho.
Eu sinto muito. Sinto tanto. Espero que seu filho seja acolhido pela sua família. Mas não sei nem o que esperar de uma família que demora 12 dias pra dar falta de alguém.
Eu sinto muito.
(Contém texto alternativo)
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