A política de guerra às drogas, que impera no Brasil há décadas, comprovadamente contribui para a manutenção da opressão da população negra e periférica, sem resultados efetivos. As favelas passaram a ser vistas como territórios violentos que precisam ser controlados e ter sua população reprimida. Uma pesquisa do Cesec, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, realizada em março deste ano, apontou que apenas no ano de 2017, em São Paulo e no Rio de Janeiro, os gastos com o combate às drogas somaram mais de 5 bilhões de reais. Com o valor gasto apenas no Rio, que foi de 1,2 bilhão, seria possível custear 152 mil alunos do ensino médio, construir 121 escolas para 77 mil novos alunos, além de comprar 36 milhões de doses da vacina Astrazeneca. Para piorar, a lógica punitivista vem se mostrando ineficiente. Ela não quebra as cadeias do comando do tráfico, reforça o racismo, alimenta a violência policial e é responsável pelo encarceramento em massa e superlotação de presídios. A maconha ou cannabis, um dos alvos dessa guerra, é uma planta com enorme potencialidade medicinal, utilizada, por exemplo, em pacientes com dores crônicas, ou casos de epilepsia. Seu uso para fins terapêuticos é regulamentado no Brasil pela Anvisa desde 2019. Há também em tramitação no Congresso Nacional uma lei de 2015 que pretende autorizar o cultivo para fins medicinais e científicos. Para nos ajudar a entender quais os benefícios da cannabis em tratamentos médicos e quais os malefícios da política de guerra às drogas, além das dificuldades enfrentadas por pacientes que precisam da planta, tivemos uma prosa com Margarida Lagame, idealizadora do "SOS Cannabis", Nathalia Oliveira, cofundadora da "Iniciativa Negra" e Fabrício Pamplona, pesquisador de produtos a base de cannabis.