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A pandemia arrastou-nos para muitas outras pandemias. Uma delas,  relativamente silenciosa, é a de milhares de casais bi-nacionais não  casados que estão separados há quase um ano e sem solução à vista. 

Com  o fecho de fronteiras em Março 2020 ficaram proibidas – a cidadãos  externos à UE – as viagens por motivos de turismo, sendo apenas  permitido viajar por motivos essenciais (profissionais, de estudo, de  saúde, razões humanitárias ou de reunião familiar). Esta última, a  reunião familiar, é lida pelos países de diferentes formas, geralmente  estando restrita a conjugues e filhos. Mas, e os milhares de casais  binacionais não casados?!



É a partir dos milhares excluídos da reunião familiar que surgiu a mobilização mundial Love is Not Tourism. Em  Portugal, esta luta tem sido dura e quase sem espaço nos meios de  comunicação, mas em Outubro de 2020 conseguiu que Portugal passasse a  reconhecer casais binacionais não casados como viagem essencial. Mas  essa directiva manteve esse reencontro na precariedade.Assim é a regra:  o/a/e parceiro/a/e estrangeiro/a/e até pode viajar para Portugal e na  fronteira deve comprovar a “relação estável e duradoura”, ficando depois  à mercê do agente do SEF de reconhecer ou não a relação como legítima e  merecedora de reunião familiar. Ou seja, os casais podem pagar centenas  de euros por uma viagem e poderão ter que pagar novamente outras  centenas de euros para regressar ao seu país caso a sua entrada em  Portugal seja recusada.   

Em Fevereiro 2021, uma série de partidos recomendaram ao Governo a criação de condições que possibilitem o reagrupamento em Portugal de famílias e casais binacionais não casados que  “assegure que a avaliação da possibilidade de deslocação para efeitos  de reunião familiar efetuada a casais binacionais não casados seja feita  em momento prévio à chegada do proponente a Portugal, com um intervalo  de tempo suficiente à aquisição de voos e ao respetivo planeamento da  vida familiar”. Até hoje não houve qualquer resposta por parte do  executivo.



Um ano volvido, estes casais sobrevivem numa espiral  kafkiana entre chamadas falhadas para o SEF e respostas de e-mail  genéricas. O medo de uma viagem falhada e da desilusão do não  reencontro, faz com que muitos aguardem a sentença do “juiz” em  desespero. Enquanto isto o amor aguarda, à distância, e mantém-se vivo  através de mensagens, video-chamadas, fotografias, cartas e presentes.

DRIM DRIM!

Ligou para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, os nossos serviços encontram-se encerrados.”