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Desde 2017 o GEMCA - Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular, ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia, realiza pesquisas relacionadas à espiritualidade aplicada na medicina, sendo que o perdão é uma das áreas de pesquisas. Nesses estudos, mapeamentos do cérebro, com exames de imagem, encontraram, durante episódios de emoções muito fortes, alterações químicas decorridas de situações muito parecidas com as que necessitam de perdão. Sabendo que é do cérebro que partem estímulos nervosos para o resto do corpo e, sobretudo, para o coração, os pesquisadores entenderam que essas situações estressantes, traumáticas e que geram mágoa e raiva causam impacto no sistema cardíaco.

Os pesquisadores disseram que “Em alguém com raiva crônica, o cérebro fica modificado”, e que conseguiram “ver, no diagnóstico por imagem, essas alterações”. Isso sobrecarrega o coração, levando a episódios de infarto.

Na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, um estudo que contou com 202 informantes entre 19 e 29 anos, mostrou, pela primeira vez, que o perdão tem efeito de longo prazo para a saúde do coração. Esse estudo esteve ligado aos marcadores de estresse e aos hormônios que nos deixam em constante estado de alerta, prejudicando nosso repouso e nossa paz interna.

Quando um momento traumático é registrado pela nossa mente e nossa memória recupera com frequência esses sentimentos, essas emoções negativas causam um efeito permanente de desgaste da nossa saúde física.

As memórias reativam a química do organismo, como se a pessoa estivesse vivendo o tempo todo a dor, e o corpo acaba liberando os mesmos hormônios.

Pensar na pessoa que nos feriu gasta energia cognitiva, afeta nossos cérebros e corpos, aumenta os níveis de hormônios do estresse em nossa corrente sanguínea e pode elevar a nossa pressão arterial, contribuindo para o ganho de peso. Ela afeta nossa capacidade de se concentrar e guardar novas memórias.

Guardar mágoa cria uma névoa em torno de sua mente e um peso em seu corpo. Isso é mais que uma metáfora, porque estudos descobriram que as pessoas podem saltar mais alto depois que, conscientemente, perdoaram alguém. Outros estudos mostraram que pessoas que pensavam sobre um rancor viram tarefas físicas se tornarem mais exigentes.

No grego, o verbo para perdão que aparece na oração do pai nosso é aphiémi (afiimi), que significa propriamente mandar embora; liberação. Pode ainda ser definido como deixar em paz ou permitir. É um verbo transitivo direto, ou seja, que necessita de um complemento, de algo para ser perdoado. Jesus ensina, na versão do evangelho de Mateus, que são nossas dívidas, ou ofensas, ou ainda débitos que devem ser perdoados. Palavras que derivam do verbo opheiló, (Ofiló) dever.

Já na versão de Lucas, o perdão é para os pecados.

Pecado vem da palavra grega hamartia, (Amartía) (a significa não e méros quer dizer parte), o que é traduzido como erro. Deriva do verbo hamartanó, (Amartano) errar o alvo, errar, pecar.

Assim como as outras pessoas comentem erros diante de nós, nós também cometemos erros diante dos homens e, pior, diante de Deus. Quando os erros partem dos outros, cabe a nós liberarmos perdão. Quando os erros são nossos, cabe a nós pedirmos perdão.

Diferentemente de remorso, o pedido de perdão sincero exige que entendamos esse erro, o vejamos como erro e, deste modo, tenhamos arrependimento...