O desejo é um assunto caro à psicanálise, debatido nas obras de Freud e Lacan, mas melhor apresentado a mim pelo ítalo-brasileiro Contardo Calligaris, de quem sou fã. Em uma passagem de um texto dele, li que o mundo seria um lugar um tanto melhor se as pessoas dessem asas aos seus desejos. A repressão que segura o ímpeto abre espaço para todo tipo de comportamento futuro, incluindo a violência. O ser humano é essencialmente desejante, como disse Maquiavel, mas também um tanto mal resolvido, essa é uma afirmação minha. Sem asas, os desejos marcham. Podemos sentir o som dos coturnos no coração que bate mais forte, no estômago que sofre de gastrite e na respiração que se torna ofegante. Explorar, conhecer, dar ouvidos e, se possível, realizar desejos é assumir a coragem de experimentar a própria vida. Gesto urgente, porque há uma coisa que é impossível reprimir: o tempo.
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